- Gênero: Documentário
- Direção: Flavio Frederico, Mariana Pamplona
- Roteiro: Mariana Pamplona
- Duração: 77 minutos
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Do concreto, do frio e da balbúrdia de São Paulo surgiram músicos vanguardistas com musicalidades desafiadoras formuladas a partir do cancioneiro popular. Premê, Tete Espíndola, Língua de Trapo, Arrigo Barnabé, Itamar Assumpção & Isca de Polícia.
Mas o que é ser Vanguarda?
Procurar desenvolver técnicas, ideias e conceitos novos, tomando a frente de um movimento ou revolução cultural-artística. Se juntar num grupo de mais de dez pessoas e experimentar com a canção, exprimindo dos limites da linguagem musical para compor e criar explicitando o processo na letra e modo de cantar — e por tabela, propor recriações interpretativas de clássicos da canção popular. Esse era o Rumo.
O documentário de Mariana Pamplona e Flavio Frederico realizado em 2019 não cai na chatura ou convencionalidade de contar a história do Grupo Rumo mas sim convida seus integrantes a revisitarem memórias, passagens da trajetória e discorrerem sobre que raios de música que buscaram fazer quando eram estudantes da ECA e da FAU na USP.
“Nascido em 1974, um grupo que já tinha alguns anos de história”
Hélio Ziskind, Ná Ozzetti, Luiz e Paulo Tatit, Geraldo Leite (Gera), Akira Ueno, Pedro Mourão, Gal Oppido, Ciça Tuccori – única integrante que saiu de cena, em 2001 e depois veio a falecer – e Zécarlos Ribeiro. A turma andava pelos corredores da universidade com cartazes com a explicação das músicas e discutindo se deviam ler antes ou depois do show.
Tatit conta que eles sustentavam a tese de que letra e música só podem ser inteligíveis juntas a partir de algo que temos em comum: a entonação. Logo caprichavam em cantar de uma forma outra, trabalhando na tonalidade das sílabas. Não buscavam músicas atonais ou eruditas mas sim o que tinha na canção em termos de linguagem que explicitava a composição. Na prática, Ná dava o tom do experimento com sua voz única e maleável, trilhando descobertas que foram também acompanhadas pelos “meninos que gostavam muito de música mas sem tino comercial.”
A outra faceta do Rumo era se debruçar sobre uma grande paixão, que eram as canções de Lamartine Babo, Noel Rosa e Sinhô para, nas palavras de Ziskind: “pegar essas músicas e puxar fios de dentro dela e quando tivesse assimétrica, dar uma polida.” Aí nasciam álbuns como Rumo aos Antigos que hoje são disputados a tapa por colecionadores.
O filme não tem como ser convencional na narrativa e nem na forma, sendo boa parte em animação – deixando os depoimentos dos músicos cheios de viço – que cria um caleidoscópio visual do Rumo na mescla de imagens de arquivo, gravações e videoclipes feitos pela histórica produtora audiovisual Olhar Eletrônico de Fernando Meirelles, Marcelo Machado e Renato Barbieri.
“Tinha uma duzentas músicas gravada em uma fitinha cassete épicas”
Luiz era o Tatit mais velho e compositor voraz, que meio que instruía a molecada restante, começando a oferecer o Rumo para fazer apresentações em teatros como o Lira Paulistana, localizado na praça Benedito Calixto no bairro de Pinheiros. Ele se considera mais acadêmico do que músico mas sempre perseguiu a forma na construção de novos conteúdos, seja por meio da semiótica ou da canção. O despojamento dele imprime um tom quase sempre sardônico ao filme, coincidindo na síntese que Zecarlos faz de que eles eram um espécie de cientistas querendo entender e transformar de forma estética a música.
Dentre as curiosidades envolvendo Rumo e seus integrantes, Ziskind tornou-se muito conhecido por compor trilhas sonoras para programas infantis da TV Cultura como o Rá-Tim-Bum, Castelo Rá-Tim-Bum e Glub Glub. E Paulo Tatit fundaria com Sandra Peres talvez o grupo mais famoso entre a criançada nos anos 90-2000, o Palavra Cantada. Mas antes dessas incursões foi com o Rumos e com o álbum Vamos Passear, de 1988, que eles se aventuraram no universo infanto-juvenil.
Zecarlos “a melodia da fala”
Então a fluência que tem na linguagem
“Se tudo acaba um dia então porque que não agora?”
O Rumo vai se pautando durante seus 17 anos de existência na perseguição da “melodia da fala” segundo Gera. Alimentados por suas composições e por coisas pré existentes como o Livro do Augusto de Campos chamado o Balanço da Bossa que avaliava a evolução da música brasileira até a Tropicália – e eles vão querer completar o que vem depois com seu trabalho.
E só no finzinho do documentário, após a história sobre “o fim da banda mas que não foi bem isso” que os talking heads voltam ao normal. Como se o lúdico parasse ali e a vida seguisse. Vão subindo os créditos, com imagens do show no Sesc Pompéia e Ná cantando versos de Um Plano:
Chegando em 2004 o grupo festejou
Os 30 anos de sua independência
E pela primeira vez nas rádios de audiência
Os locutores gritando:
“É um grupo novo!”
É singular!
(Em que ano que foi?)
Cena memorável
A entrevista e a música sobre a despedida, universo.