Crítica | Festival

Shayda

Medo constante

(Shayda, AUS, 2023)
Nota  
  • Gênero: Drama
  • Direção: Noora Niasari
  • Roteiro: Noora Niasari
  • Elenco: Zar Amir Ebrahimi, Osamah Sami, Leah Purcell, Jillian Nguyen, Mojean Aria, Selina Zahednia, Rina Mousavi
  • Duração: 117 minutos

Neste ano, a seleção de Sundance apresentou obras muito diversas de cineastas de ascendência iraniana que voltaram a suas origens. Cada uma, a seu jeito, contou a sua história. Foi o caso de Maryam Keshavarz, com The Persian Versian; Sierra Urich, com Joonam, e Noora Niasari, com Shayda. Neste último, a escritora e roteirista radicada na Austrália narra de maneira envolvente e delicada como uma mãe iraniana, sobrevivente de violência doméstica, tenta conseguir o divórcio e a guarda da filha, mesmo com as dificuldades impostas pela legislação do país. 

O filme, estreia de Niasari em longas de ficção, tenta mostrar o quanto é difícil para Shayda se equilibrar entre a angústia e a necessidade de tornar a vida da filha feliz. Morando em um lar de acolhimento para mulheres vítimas de violência, sem poder exercer suas atividades normais, as duas vão reconstruindo suas vidas aos poucos. A pequena Mona, que quase nada entende, se transforma com o passar do tempo e sua mãe vai tornando-se cada vez mais forte, ainda que seja difícil para ela viver plenamente.

O medo é um sentimento constante no filme, com a mãe vivendo em um constante estado de alerta, sofrendo pelo que já passou e insegura com tudo e quase todos. Zar Amir-Ebrahimi, ganhadora do prêmio de melhor atriz em Cannes por Holly Spider, é fundamental para tornar Shayda tão crível e tocante. Seu desespero ao fim da primeira visita; toda a tensão nas traduções do depoimento; as conversas com a mãe no telefone; e mesmo os breves momentos de descontração, ou quando faz aquilo que mais gosta, dançar, são alguns dos momentos que tornam toda aquela situação muito real.

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Há ainda a pequena Selina Zahednia com suas inseguranças e confusão, e várias passagens tocantes e impressionantes, como a sequência do colar. No entorno das duas, outras mulheres que se encontram na mesma circunstância de suspensão e angústia, mostrando que o problema ultrapassa questões regionais, de raça e de crença, e, junto com elas, Joyce (Leah Purcell, de A Bravura de Molly), que agora dedica-se a ampará-las. Por serem tão importantes na cura e no resgate da força e da fé perdida, a comunhão e a sororidade ganham muita atenção.

Niasari é habilidosa na construção da sua narrativa, consciente dos dois universos diverso que precisa unir. Embora algumas passagens sejam mais elaboradas do que outras, ela encontra o equilíbrio. A diretora tem momentos de extrema delicadeza e inquietude, com planos muito maduros e bem pensados. E é muito bonito como ela assume sua participação para além da criação ficcional, envolvendo no filme também o começo de sua vida como cineasta.

Ainda que simples, Shayda é um filme forte e potente, que fala da realidade da pequena Noora e sua mãe, mas de tantas outras meninas e mulheres pelo mundo, seja na década de 1990, quando o filme se passa como nos dias de hoje. Uma pequena pérola que volta à realidade das mulheres iranianas, mas não só delas. 

Um grande momento
O fim da primeira visita não-supervisionada

[Sundance Film Festival 2023]

Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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