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SLAM: Voz de Levante

(SLAM: Voz de Levante, BRA, 2017)
Documentário
Direção: Roberta Estrela D’Alva, Tatiana Lohmann
Roteiro: Roberta Estrela D’Alva, Tatiana Lohmann
Duração: 95 min.
Nota: 6 ★★★★★★☆☆☆☆

Poetry slam, concurso de poesia onde poetas têm um tempo pré-determinado, na maioria das vezes 3 minutos, para declamarem obras de sua autoria e serem avaliados por um júri, escolhido entre pessoas da plateia, com notas levantadas após cada apresentação. Importante pela representação e representatividade, o slam tem se popularizado no Brasil como um caminho pela arte para o protesto, principalmente nas periferias, e chega agora aos cinemas com o filme SLAM: Voz de Levante.

O documentário, dirigido pela poeta e slammer Roberta Estrela D’Alva – a responsável por trazer o slam para o Brasil – e por Tatiana Lohmann, faz um retrato competente da modalidade artístico/esportiva, indo buscar suas origens, inclusive em entrevistas com Marc Smith, aquele que iniciou o concurso com open mic (microfones abertos) a quem quisesse declamar; passando pelo reconhecimento mundial, com campeonatos como o da França; buscando características nacionais, em diversos eventos brasileiros, e chegando a uma natural evolução e determinação de discursos e falas que agora, pelo menos no Brasil, são dominantes.

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Há um cuidado em fazer com que o público compreenda o slam sem ser excessivamente didático, apostando na colagem de apresentações intercaladas por poucas entrevistas e algumas reflexões. O filme busca trazer para si a potência das apresentações e encontra esse caminho desde sua abertura, com as palavras de Luiza Romão.

Além de despertar a curiosidade daqueles que ainda não conhecem o slam, reavivar e estimular a criação dos que já competem, é como se o filme fosse um novo palco para as palavras ditas. Essa simbiose entre palco/tela é o que SLAM: Voz de Levante tem de mais interessante, essa conversão de caminhos para que vozes que precisam ser ouvidas cheguem aos ouvidos – e aos olhos – de quem está na sala escura. Isso é muito mais do que descortinar a arte ainda desconhecida pela maioria da população, é criar novos canais para essas vozes.

Assim como as poesias que traz, o filme vai além do slam e traz discussões interessantes sobre o hip hop, em sua importância e desvirtuamento por alguns; fala sobre juventude negra, arte e inclusão; e, numa conversa polêmica, mas interessante, questiona a predominância de discursos e o apagamento de falas mais triviais, mas ainda importantes enquanto arte.

Bem pensado e elaborado, o documentário encontra alguns percalços no caminho, quando por vezes repete-se e, talvez pela falta de tempo, expõe poemas incompletos que gostaríamos de ver na íntegra. Há também um afastamento nos discursos estrangeiros, algo que faz com que não se saiba se há uma predominância de discurso como aqui, ou se a seleção já foi por esse caminho.

Porém, mesmo com esses detalhes, SLAM: Voz de Levante é um filme que consegue encontrar aquilo que estava procurando, e traz para muitos algo ainda restrito a poucos. E que essa voz seja cada vez mais ouvida. Slam!

Um Grande Momento:
Roberta no palco em Paris.

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Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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