- Gênero: Drama
- Direção: Lô Politi
- Roteiro: Lô Politi
- Elenco: Rômulo Braga, Everaldo Pontes, Malu Landim, Luciana Souza
- Duração: 100 minutos
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Pai, pode ser que daí você sinta
Qualquer coisa entre esses vinte ou trinta
Longos anos em busca de paz
Lô Politi (diretora de Jonas e Alvorada) escolhe a paternidade como tema desse novo filme de ficção. Um filho que tenta não errar como erraram com ele. Há um ano sem ver a filha, Téo (Rômulo Braga) quer recuperar o tempo perdido o mais rápido que der, mas o que ele não imaginava é que o fantasma do velho pai, Teodoro (o veterano Everaldo Pontes), voltaria para lhe assombrar. Esse é o enredo de Sol, que conta com a presença solar da pequena Malu Landim, que faz sua estreia nos cinemas no papel de Duda — ou Rafa, como gostaria de ser chamada.
Na dinâmica que vai se estabelecendo entre filha, pai e avô é que o filme se sustenta, no excesso das falas de um, do silêncio do outro e da singeleza do afeto que vai se constituindo entre a neta e seu Teodoro. Mas que pena que esses momentos de cumplicidade e que o tergiversar para fora do perímetro do personagem de Teo são raros na tessitura dramática de Sol. Inclusive o título do filme não tem lá seu acertado sentido, se forçoso no máximo por ser um “road movie solar no sertão baiano” do que arremeter a lembrança do apelido da esposa falecida de Teodoro, Solange.
Rômulo Braga constrói com talento seu personagem, um pai claudicante e filho traumatizado pelo abandono. A cena em que usa o recurso do Google Earth, da imagem satélite no GPS, para reavivar a memória do lugar que conheceu criança, enquanto a mão que segurava o celular se mantinha trêmula, é comovente e interessante demais. E por falar em construções, Téo é arquiteto e faz desenhos, algo que também habita a mente e a morada de seu Teodoro, que inclusive esculpe uma versão de sua amada Sol como adorno de barco.
“De homem pra homem, supera”
Como não seria diferente, essa escultura fará companhia ao skate da Duda e integrará a aventura na estrada até Salvador. Seguindo uma progressão linear, com a passagem dos dias entre a descoberta da enfermidade de Teodoro, a ida de Teo e Duda até ele e a viagem dos três, em meios as crises de tosse de Duda o filme agrega tensões envolvendo a saúde da menina, além das tentativas de afogamento de Teodoro.
O que tem de solar a fotografia de Breno César — que lembra mas não chega ao detalhamento da de a Breve Miragem de Sol, que vai por um recurso estilístico parecido – não resplandece no interior (turbulento ainda que belo, de Téo) as memórias de uma infância com lacunas.
“As vezes você acha que vai passar mais não passa….
A vergonha, a culpa”
Bagagens emocionais são o vórtice de Sol, que a partir da expiação da culpa da parte idade de Teodoro, pacífica os erros de Teo em relação a Duda, oportunizando mais uma chance para o pai ser mais presente na vida da menina e parar de arrasta-lá na direção dos seus problemas familiares.
Mas entre o velho, o mar e o rio (no caso outro velho, o Chico), a menina quer dirimir o avô, ser o elo entre eles, convencê-lo que a vida ainda é boa. O que ela não sabe ainda é que onde a ferida já putrefou não tem remédio que amenize.
E mesmo que a tragédia familiar e social seja esperada, mesmo que o desfecho da trama seja óbvio, ainda assim dá para se relacionar com Sol e sua proposta honesta.
Um grande momento
Memória da camisa branca