Crítica | Festival

Mar Infinito

Apaixonada poeira estelar

(Mar Infinito, POR, 2021)
Nota  
  • Gênero: Ficção Científica
  • Direção: Carlos Amaral
  • Roteiro: Carlos Amaral
  • Elenco: Nuno Nolasco, Maria Leite, Paulo Calatré, António Durães, Pedro Galiza
  • Duração: 78 minutos

“Não era mais o mesmo mas estava em seu lugar…”

Mar Infinito é a ficção científica portuguesa, ora pois, que poderia facilmente ser um produto de Drake Doremus e seu “slow love cinema” mas é a estreia em longas do especialista em efeitos visuais e cineasta Carlos Amaral. Produzido por Rodrigo Areias (dono da produtora Bando à Parte, que esteve na Mostra ano passado com Vencidos da Vida), o filme de baixo orçamento imagina um futuro não tão distante onde a humanidade voluntariamente deixa a terra para colonizar um astro denominado Proxima Centuri. Só que a la Gattaca, existe uma pré seleção e o protagonista, Pedro Miguel (Nuno Nolasco), por não saber nadar, é rejeitado.

Mar Infinito se configura então como um romance distópico, já que o jovem conhece Eva (Maria Leite) e, a trama meio que se limita a como eles lidam com a exclusão no planeta enquanto se apaixonam, isso enquanto a vã filosofia vai descortinando os traumas de Pedro Miguel em mergulhos, a elíptica memória perscrutado ocasos do coração.

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Mar Infinito
Cortesia Mostra SP

“Vai ver estamos destinados a terminar onde começamos, o universo não foi feito para nós” – enquanto Eva lança frases de efeito atordoante num já melancólico Pedro Miguel, outros (parcos) personagens que surgem em Mar Infinito, como o enigmático Ricardo diz que seu destino é apodrecer com o resto da humanidade e que não haverá destino diferente no lamaçal de oceanos infinitos: “Uma existência que não servirá mais às nossas necessidades egoístas como indivíduos.”

Narrativamente interessante, ainda que com um ritmo enfadonho em certas sequências, Mar Infinito mostrou que é possível fazer ficção científica mesmo que sem um orçamento de centenas de milhões, imaginando um mundo retrofuturista não tão distante de uma Terra abandonada pelos bilionários fúteis que já planejam as viagens para Marte e a colonização de outros planetas além da comercialização de pacotes de viagem via assinaturas mensais pagas com cartão de crédito ou carteiras digitais.

Mar Infinito
Cortesia Mostra SP

Especial destaque para a banda sonora, catártica sem ser evasiva ou demais expansiva, a fotografia de Jorge Quintela e o desenho de som do quase-brasileiro Vasco Carvalho, que combinam muito bem a visão de Amaral, despontando um visual fascinante nesse filho-filme de um Solaris (do Tarkovski, logicamente) ou mesmo Lunar que, se menos acanhado na narrativa, poderia trazer toda uma bagagem melancólica de quem filosofa para além da materialidade da existência de vida fora desse planeta, o sentido em persistir insistindo em habitar outros mundos sem compreender o que nos torna nós. Se é a capacidade de pensar, de memorizar, de amar?

— Vai ver temos prazo de validade e os outros não….
— E eles são o futuro?

Um grande momento
“Um dia vamos caminhar em outro planeta”

[45ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo]

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Lorenna Montenegro

Lorenna Montenegro é crítica de cinema, roteirista, jornalista cultural e produtora de conteúdo. É uma Elvira, o Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema e membro da Associação de Críticos de Cinema do Pará (ACCPA). Cursou Produção Audiovisual e ministra oficinas e cursos sobre crítica, história e estética do cinema.
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