- Gênero: Comédia
- Direção: Rachel Lambert
- Roteiro: Stefanie Abel Horowitz, Kevin Armento, Katy Wright-Mead
- Elenco: Daisy Ridley, Dave Merheje, Marcia DeBonis, Parvesh Cheena
- Duração: 91 minutos
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Tudo é muito bonito, arrumado e bem encaixado em Às Vezes Quero Sumir. Música harmoniosa, lugar impecável. Em meio à perfeita organização que é a reflete, Fran passa seus dias seguindo uma mesma chata rotina, observando aqueles que à sua volta não têm tanta precisão. Ela tem delírios diários de mudança, igualmente constantes, belos e esteticamente precisos. Fran fantasia sua morte, sozinha, sempre. Num escritório vazio, içada por um guindaste, tomada pela vegetação. Ela quer morrer.
No momento de abstração, sua fuga da solidão e do vazio é, justamente, morrer na solidão e no vazio, tamanha é sua dificuldade social. Mas Fran, que por vezes parece gostar de pensar em morrer, nem sempre gosta de ser assim. E é nesse ponto sutil de desconforto consigo mesma da personagem que a diretora Rachel Lambert quer chegar. Embora ele se torne mais óbvio em determinado momento do filme, há um trabalho interessante de percepção e exposição para chegar até ali.
Com roteiro de Stefanie Abel Horowitz, Kevin Armento e Katy Wright-Mead, e uma interpretação precisa de uma discreta – e aqui mais britânica do que nunca – Daisy Ridley (a Rey da nova saga Star Wars), a personagem demonstra uma curiosidade genuína por aqueles que conseguem se integrar, mas ainda deixa evidente sua excitação quando vê o guindaste subindo, no destaque para a pontinha do pé roçando no tapete. E há toda uma complexidade por trás do titubear no preenchimento do cartão ou em sua postura durante o parabéns, que a diretora deixa em suspensão por um tempo.
Às Vezes Quero Sumir mergulha nessa personagem e acaba sendo tudo que ela é, se transformando junto com ela. A desarrumação que vai tomando conta da sua vida à medida que as frustrações acontecem e as expectativas se frustram, o modo como as coisas saem do lugar quando ela tem que tomar atitudes que não fazem parte de seu cotidiano milimetricamente organizado e, mais, quando tem que se adequar a outra pessoa são demais para ela. Para além do que se vê, muito vem dos diálogos, da dificuldade antes percebida e que se faz óbvia no distanciamento, no silêncio e na negação.
Ela quer estar ali, mas ao mesmo tempo quer estar a léguas de distância, quer permanecer uma icógnita e odeia tudo que o outro gosta e, mesmo que tenha experimentado aquilo que nunca experimentou antes e gostado, prefere se fechar e voltar ao que conhece. Talvez seja no tornar-se evidente que Às Vezes Quero Sumir perca um pouco de sua graça, pois compreender Fran foi um jogo que a diretora estabeleceu com o espectador desde o começo do filme e explicá-la demais quebra isso, mas é fato que ela conseguiu criar uma conexão forte e, neste ponto, já estamos envolvidos demais com a personagem. E vamos até o fim, caindo, inclusive, na armadilha fácil que armam para a gente.
Um grande momento
Morrendo com propriedade na banheira