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Spotlight – Segredos Revelados

(Spotlight, EUA, 2015)

Drama
Direção: Tom McCarthy
Elenco: Mark Ruffalo, Michael Keaton, Rachel McAdams, Liev Schreiber, John Slattery, Brian d’Arcy James, Stanley Tucci, Elena Wohl, Gene Amoroso, Doug Murray, Sharon McFarlane, Jamey Sheridan, Neal Huff, Billy Crudup, Robert B. Kennedy, Duane Murray, Brian Chamberlain
Roteiro: Tom McCarthy, Josh Singer
Duração: 128 min.
Nota: 9 ★★★★★★★★★☆

Tida como a profissão fetiche do cinema americano, o jornalismo esteve presente em muitos filmes, seja como detalhe, quando algo acontecia a um personagem que era jornalista, seja como mote principal, quando a própria trama envolvida redações, magnatas da imprensa, investigações jornalísticas e afins.

De certo modo, Hollywood chamou a atenção de várias gerações para o jornalismo. Esse mesmo jornalismo que vemos morrer aos poucos desde a chegada dos anos 2000, com a explosão da Internet. Hoje em dia, a apuração da notícia e a relevância do conteúdo acabaram se perdendo frente a importância da velocidade da informação. Spotlight – Segredos Revelados se passa nessa transição, quando a imprensa tradicional já está perdida com os novos rumos da tecnologia.

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Na gigante redação do The Boston Globe, comprado pela revista Time, um novo redator-chefe chega para tentar impulsionar a relação com os leitores. O medo inicial do corte dá lugar a uma vigorosa investigação sobre os padres pedófilos da cidade. A equipe Spotlight, pequeno grupo do jornal voltado especificamente para o jornalismo investigativo, é destacado para o levantamento e confecção da matéria.

É muito bom ver novamente mas telas um retrato do bom e velho jornalismo, quando blocos de anotação e gravadores saem pela cidade para descobrir o que realmente aconteceu e porque não houve nenhuma repercussão ou solução definitiva para o problema. São várias pesquisas de clipping, entrevistas e até uma batalha judicial para ter acesso a documentos arquivados como sigilosos.

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O foco da matéria é daqueles que embrulham o estômago e mexem com quem investiga um sem número de denúncias e relatos de abusos dos mais diversos. Um misto de indignação e questionamentos pela inércia – até então – do jornal no caso perturba os jornalistas e também o espectador que acompanha a trama.

Foi preciso que alguém de fora chegasse para que a história ganhasse vida, dando ao grupo uma sensação de impotência frente às muitas tentativas de manutenção e o questionamento sobre a capacidade do próprio jornalismo que exerce.

A direção segura de Tom McCarthy (O Visitante), que também assina o roteiro juntamente com Josh Singer (O Quinto Poder), deixa isso muito claro durante as duas horas em que informações transbordam da tela. São tantos acontecimentos e tão poucas variações visuais, que o filme parece durar muito mais do que isso, mas sem cansar quem o assiste.

Mais do que locações, tomadas, trilha sonora e direção de arte, o que importa e se destaca ali é a história contada. Com um elenco que conta com Mark Ruffalo (Foxcatcher), Michael Keaton (Birdman), Rachel McAdams (Meia-Noite em Paris), Liev Schreiber (Salt) e Stanley Tucci (Jogos Vorazes), talvez só mesmo as atuações, todas corretas, consigam por algum momento se sobrepor ao que está sendo descoberto aos poucos e, também aos poucos, vai se tornando mais e mais aterrador.

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Claro que alguns momentos também têm essa capacidade, como quando Robby, vivido por Keaton, espera no carro do lado de fora do jornal a saída da frota de caminhões na madrugada de domingo.

Com os espectadores atentos a todo o desenrolar da trama, até mesmo as cartelas com informações após o fade final, solução não vista com bons olhos por todos, fazem sentido.

Spotlight – Segredos Revelados se volta ao bom e velho jornalismo, que, cumprindo sua principal função, foi capaz de expor uma das maiores crueldades cometidas pela igreja católica nos tempos atuais. Gerando um efeito cascata daquela matéria que vemos ser construída, em todos os Estados Unidos e ao redor do mundo.

Imperdível! Jornalistas vão gostar ainda mais do filme.

Um Grande Momento:
“Molestar não é estuprar”.

Oscar-logo2Oscar 2016
Melhor Filme, Melhor Roteiro Original

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Links

IMDb [youtube]http://www.youtube.com/watch?v=zgicIR5Skwc[/youtube]

Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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