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Lift – Roubo nas Alturas

Diversão sim, compromisso não

(Lift, EUA, 2024)
Nota  
  • Gênero: Aventura
  • Direção: F. Gary Gray
  • Roteiro: Daniel Kunka
  • Elenco: Kevin Hart, Gugu Mbatha-Raw, Vincent D'Onofrio, Billy Magnussen, Jean Reno, Sam Worthington, Yun Jee Kim, Ursula Corberó, Viveik Kalra, Burn Gorman, David Proud
  • Duração: 96 minutos

Eu tento não pensar nas coincidências que se apresentam, mas as narrativas que as formam às vezes vão longe demais para serem ignoradas. Na última quinta-feira, estreou nos cinemas o filme de ação com claras inspirações oitentistas Beekeeper, no melhor estilo “exército de um homem só”, como um Comando para Matar da vida. No dia seguinte, na Netflix chegava Lift – Roubo nas Alturas, uma daquelas fitas de ação com toques de humor em cima de um roubo como só vemos na produção noventista do cinema estadunidense. Aqui, o Wesley Snipes de outrora faz as vezes de Kevin Hart, mas a ambientação não poderia ser mais parecida com coisas como Assalto sobre Trilhos e Passageiro 57. O resultado é uma produção sincera em sua intenção de divertir sem compromisso. 

Provavelmente não chegará com uma imagem gravada na cabeça até o mês que vem, porque Lift – Roubo nas Alturas é igual a muitas narrativas já apresentadas anteriormente. Na tela, um grupo de ladrões é chamado para ajudar o FBI a desmascarar um sanguinário bandido, que não se furta em matar quem quer que seja. Eles terão de forjar o roubo de meio bilhão de dólares em barras de ouro sendo transportados de avião para outro país, e o filme vai costurando a trama principal a das relações entre os membros do grupo. Se encararmos os filmes pelo que eles são (e não pelo achamos que deve ser), é bem provável que títulos descartáveis como esse acabem se mostrando uma diversão ligeira. 

Talvez o resultado geral tenha dado certo e remeta aos filmes de trinta anos atrás por causa de seu comandante, F. Gary Gray. Alguns filmes marcantes que ele nos legou e que vieram da década: Sexta-Feira em Apuros, Até as Últimas Consequências e A Negociação. Seu nome era tradicional no período, que se esticou até que as novas gerações já não ligassem para filmes tradicionais da época. Para quem conhece suas habilidades no gênero, percebe que Lift – Roubo nas Alturas tem um arco de gênero muito bem defendido, embora nada de muito novo ou relevante esteja sendo dito ali. É o tradicional sendo mais uma vez defendido, e suas diretrizes são as que fizeram o sucesso de filmes como esse durante tantos anos. 

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Apesar da ausência absoluta de novidades (e de uma certa confusão com o argumento que quer parecer mais inteligente do que é, na verdade), durante a pouco mais de uma hora e meia onde se desenrola, Lift – Roubo nas Alturas funciona da maneira prometida. Há um elenco inchado para que tenhamos empatia por muitos daqueles personagens, os atores que os vivem tem carisma e sua fruição acontece de maneira natural. São os arquétipos de sempre: temos o nerd que cuida da informática da coisa, a menina da ação que pilota um avião, o mestre dos disfarces veterano, o maluquinho empolgado… ou seja, nada de novo. Além disso, os dias de hoje pedem representatividades étnicas, e temos de tudo em cena também. É um filme moldado, como um bom produto Netflix, mas que o talento do diretor faz funcionar. 

Existe um problema que nos tira da produção, que é o casal central especificamente. Kevin Hart tem melhorado muito como ator, no que consiste uma certa versatilidade, e também em domar seus instintos zombeteiros. Gugu Mbatha-Raw é uma ótima atriz cujo talento ainda não foi devidamente reconhecido, mesmo que já tenha sido evidenciada em Belle e Nos Bastidores da Fama. Porém eles interpretam um casal, ou algo parecido com isso, e a química que deveria justificar que eles larguem tudo um pelo outro, simplesmente não decola. Ambos desempenham seus papéis da melhor maneira possível em separado, mas sua interação não resulta em algo que nos convença do que eles tentam mostrar. Há a tentativa explícita, que infelizmente não surte como deveria. 

Já na parte da ação, o filme abre com uma sequência bem interessante e cheia de camadas, que acontece durante e após um leilão. Essa energia caótica não está em cena na totalidade de Lift – Roubo nas Alturas, apesar da diversão ser garantida non-stop. O que vemos é mesmo um produto para o streaming capaz de nos fazer esquecer a passagem do tempo por toda sua duração, mas que não mudará a vida de ninguém, nem entre os envolvidos. Fica a sensação de que algo ainda mais envolvente pudesse ser entregue, ao mesmo tempo em que percebemos as óbvias e parcas intenções do produto. 

Um grande momento

O roubo do NFT

Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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