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O cinema mutirão da Mostra Tiradentes

Ary Rosa e Glenda Nicácio são os homenageados da 26a. edição

A Mostra Tiradentes raramente (se é que já aconteceu isso alguma vez) costura muito bem seus caminhos, de um lugar a outro. Da escolha temática de cada ano, passando pela curadoria de cada seção de suas edições, indo até as homenagens, Tiradentes não apenas tem uma coesão muito forte, como consegue apreender o seu tempo e conversar com suas temporadas, e o que foi produzido em cada uma delas. Eles acabaram de revelar que seu tema esse ano é “Cinema Mutirão”, e com isso, inclusive, conseguem uma comunicação com o último vencedor da Aurora, Sessão Bruta, um filme de proposta coletiva, de feitura colaborativa e que é exatamente o que estará na pauta entre 20 e 28 de janeiro, no nosso próximo encontro com eles. 

O coordenador curatorial Francis Vogner dos Reis reflete com muita precisão, sua escolha e de suas companheiras Lila Foster e Camila Vieira para esse ano: “Muitos grupos de lugares diferentes e de campos artísticos distintos (dança, música, teatro) se uniram para fazer audiovisual com os recursos dos editais emergenciais da Lei Aldir Blanc, que, no seu caráter abrangente e flexível, trouxe algumas inovações nas obras, na forma de mobilização do setor e na elaboração de uma política pública em contexto adverso”.

“Ao falarmos de ‘cinema mutirão’, não pensamos só no esforço coletivo na realização de filmes com seus novos materiais, modos e métodos, mas no esforço coletivo de construção cultural com outras formas de sustentação, apropriando-nos também do legado das experiências coletivas de organização e participação social e de políticas públicas de épocas anteriores”, explica Francis. “Para além da crise dos últimos anos, também é chegado o momento de avaliarmos as políticas públicas que foram responsáveis por um rico ciclo do cinema, mas que chegaram ao seu limite”. 

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Esse foi o primeiro anúncio feito esse ano, junto com a da dupla homenageada no próximo mês, Ary Rosa e Glenda Nicácio, os responsáveis pela Rosza Filmes, e os diretores de Café com Canela, Ilha e outros quatro títulos que já os formam como representantes de uma renovada comunicação audiovisual com o Recôncavo Baiano. Tendo todos os seus títulos sido exibidos em Tiradentes até então, e sendo eles mesmos fomentadores de coletivos de ideias de fomento cultural, além de estarem à frente de uma produtora que trabalha em clima coletivo, não poderia ter sido mais acertado o encontro entre esses dois primeiros anúncios feitos.

A homenagem por extensão também a Rosza Filmes é uma forma de dar nome ao trabalho que os diretores realizam enquanto agitadores culturais, artistas e pensadores contemporâneos, refletindo sobre a localidade e a pluralidade de vozes à margem da padronagem do cinema brasileiro de hoje. “Celebrar o trabalho da Rosza Filmes pode nos orientar para a reflexão e a prática de um audiovisual do século 21 tão grande, diverso, complexo e fascinante quanto o país pode ser na sua identidade, e em suas diferenças. E as obras assinadas por Ary e Glenda são faróis”, exalta Francis. 

Em breve, a Mostra Tiradentes irá anunciar sua seleção de filmes para 2023, tanto na competição principal – a Aurora – quanto nas paralelas, a Olhos Livres, e as seleções da praça, os curtas da Foco, e toda sua programação que terá cobertura aqui do Cenas de Cinema mais uma vez, mantendo parceria e abrindo os trabalhos do cinema todos os anos no país. Não percam as próximas novidades.

Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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