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Steve Jobs

(Steve Jobs, EUA/GBR, 2015)

Drama
Direção: Danny Boyle
Elenco: Michael Fassbender, Kate Winslet, Seth Rogen, Jeff Daniels, Michael Stuhlbarg, Katherine Waterston, Perla Haney-Jardine, John Steen
Roteiro: Walter Isaacson (livro), Aaron Sorkin
Duração: 122 min.
Nota: 7 ★★★★★★★☆☆☆

Entre os nomes daqueles que mudaram a vida de todas as pessoas na era atual está o de Steve Jobs. O homem de negócios por trás da empresa Apple desperta a curiosidade e sempre chama a atenção, cultivando admiradores e críticos pelo mundo todo, mesmo depois de sua morte. Até agora, ele já foi retratado em três filmes: Piratas da Informática: Piratas do Vale do Silício, Jobs (lançado há pouquíssimo tempo) e o que está em cartaz agora nos cinemas brasileiros, Steve Jobs.

Dirigido por Danny Boyle (Quem Quer Ser um Milionário?), com roteiro de Aaron Sorkin (A Rede Social), adaptando a biografia escrita por Walter Isaacson, o novo Steve Jobs concentra suas atenções em três momentos primordiais da vida do empresário, minutos antes das palestras de lançamento de três produtos que marcaram sua carreira: o lançamento do Macintosh, em 1984; do Next, em 1988, e do iMac, em 1998.

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Paralelamente à preparação para o evento, vemos algumas passagens que remetem à vida pessoal de Jobs, algumas em flashback, outras com interações em tempo real. Destacando a empáfia, o perfeccionismo e a ousadia de sua figura principal, o filme consegue fazer um retrato muito mais fiel do que o filme de 2013, dirigido por Joshua Michael Stern e com o fraco Ashton Kutcher como protagonista. Embora deva causar a mesma ira que o filme anterior em apple lovers.

Uma melhor dramatização e um cuidado muito especial com o roteiro tornam o longa-metragem interessante, mesmo que ele não consiga se afastar muito da aura teatral que acompanha sua concepção. Composto em três atos, muito bem separados visualmente, seja pelo método de capitação (o primeiro ato foi filmado em 16mm, o segundo em 35mm e o terceiro em digital) ou pela boa ambientação em cenários, figurinos e penteados, as passagens filmadas em sequência, como em uma peça, fazem com que o filme se confunda entre os dois registros. Mas nada que incomode a ponto de comprometer o que se vê.

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As boas ideias narrativas de Sorkin casam bem com as experimentações visuais de Boyle. Ambos conseguem criar toda uma atmosfera diferente para se acompanhar aquela passagem de tempo. O fato de o espectador conhecer boa parte da história também ajuda bastante, afinal de contas, cada uma daquelas inovações construíram diversos aparelhos tidos como essenciais nos dias de hoje. Até os que ainda não existiam no lançamento do iMac, se fazem presentes em conversas dentro do filme.

Ainda pensando no que há de positivo no longa-metragem, estão Michael Fassbender (Shame) como Jobs e Kate Winslet (Foi Apenas um Sonho) como Joanna Hoffman, amiga do empresário e responsável pelo marketing pessoal e dos produtos por ele lançados. Integrados à proposta do diretor, ambos estão muito à vontade com seus papéis e com o método de gravação, tanto que os dois trabalhos foram, justamente, indicados ao Oscar 2016.

São muitos pontos positivos, mas há bastante coisa a ser criticada no filme. A primeira e mais grave delas é o modo como algumas coisas acontecem. Apesar de ser uma biografia, de alguém bastante conhecido, há várias passagens romanceadas que jamais chegaram a acontecer, ou, se aconteceram, não do modo como o filme retrata. O surto de Hoffman ou a conversa com John Sculley, vivido por Jeff Daniels (Perdido em Marte), antes do lançamento do iMac são alguns desses momentos mal explicados e mal posicionados na trama.

Outro problema está na vontade de Boyle de mostrar mais do que precisa ser mostrado. A ideia dos três atos é ótima e funciona muito bem, por que então apelar para flashbacks que pouco acrescentam à história? A discussão com Steve Wozniak, interpretado por Seth Rogen (Entre o Amor e a Paixão), sobre o número de portas e a customização dos produtos, por exemplo, poderia ter sido ali, nos bastidores, não havia necessidade de voltar à garagem onde os dois trabalharam nos primeiros Apple lançados. O mesmo para a contratação de Sculley.

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Há ainda uma tentativa de humanização que soa mais falsa do que deveria. Steve Jobs é mostrado durante todo o tempo como uma pessoa intransigente, fria, calculista e obstinada, mas tem na figura da filha, que não gostaria de reconhecer, um tentativa de nuance que não consegue se concretizar em momento nenhum.

Equilibrado entre erros e acertos, Steve Jobs é um filme que consegue se sustentar e merece ser visto tanto pelas opções acertadas do diretor, como pelo trabalho de seus dois personagens principais, realmente incríveis.

Quanto ao filme lançado há pouco mais de dois anos, não há nem possibilidade de comparação. O longa de Danny Boyle é muito mais cinema e chega muito mais longe.

Um Grande Momento:
A conversa com Wozniak.

Oscar-logo2Oscar 2016 (indicações)
Melhor Ator (Michael Fassbender), Melhor Atriz Coadjuvante (Kate Winslet)

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Links

IMDb [youtube]http://www.youtube.com/watch?v=3CQVleOp9Ns[/youtube]

Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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