Crítica | Outras metragens

Swipe NYC

(Swipe NYC, EUA, 2023)
Nota  
  • Gênero: Ficção
  • Direção: Sue Kramer
  • Roteiro: Sue Kramer
  • Elenco: Lisa Edelstein, Richard Schiff, Bridget Moynahan, David Kelsey, Omari K. Chancellor, David Walton, Angela Wong Carbone, Justin Marcel McManus
  • Duração: 30 minutos

A vida de Syd chegou ao ponto em que ela não esperava ou para o qual não estava preparada, se é que existem meios de estar preparada para isso. Seu casamento acabou e sua filha foi atrás do próprio futuro. Ela se vê então sozinha, sem saber muito bem o que fazer com aquela realidade e tentando entender os novos sentimentos. A primeira impressão de alguém atrapalhada, desesperada e descabelada correndo pelas ruas de Nova York em nada se parece com a mulher no balcão daquele bar à espera do primeiro encontro com um desconhecido.

Como indica o título, Swipe NYC, de Sue Kramer, vai falar de aplicativos de relacionamento como Tinder, Bumble, Happn e afins como essa possibilidade de encontrar alguém para superar a solidão. Em sucessivos encontros malfadados vamos conhecendo mais sobre a protagonista, sua história e sua relação com a vida e com a própria realidade. Ao mesmo tempo, são esses encontros que a fazem olhar para si mesmo.

O roteiro escrito pela própria Kramer é divertido e Lisa Edelstein, a dra. Lisa Cuddy de House, é ótima na construção dessa mulher que passa pelas situações mais inusitadas em seus dates. Dona de um ótimo timing cômigo e expressões marcantes, ela passa por carentes, descontrolados, catfishers, malas casuais e até tenta experimentar aquilo que não conhece, trazendo à tela exatamente aquilo que usuárias e usuários de aplicativos conhecem tão bem.

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Mas é nos seus momentos, quando olha para si de verdade, e não importa se está sozinha ou acompanhada pela professora de pilates ou em conversas ocasionais com o bartender, que a personagem se torna ainda mais marcante por ser tão identificável. Há pontos na vida de Syd, uma mulher de mais de quarenta, que sofre com a síndrome do ninho vazio, se frustra a cada novo encontro, sem intimidade consigo mesma e que, a certo ponto, consegue olhar para si, que é muito tocante, em especial por quem experimenta ou já experimentou os mesmos sentimentos.

A sigla em Swipe NYC também não é por acaso. Muito do curta está interessado em mostrar a realidade de um lugar específico. Não apenas o bar, mas as pessoas com quem a protagonista se encontra, embora não sejam raras em qualquer megalópole, são figuras marcantes na classe média nova-iorquina que Kramer quer retratar. Os sentimentos de Syd poderiam até ser os mesmos longe daquele lugar, mas a vida teria outro tempo, outro ritmo e os encontros seriam, sem dúvida, muito diferentes. E se o lugar faz quem se é, ela, então, não seria aquela pessoa.

Assim, há muita coisa que interessa em Swipe NYC e que vai além da primeira impressão de mais uma comédia boba sobre aplicativos de encontro. Com uma personagem cheia de contrasensos e uma atriz que entende toda a sua complexidade, sem deixar de lado o humor, muito é dito e um tanto disso fica com quem assiste depois que o curta acaba.

Um grande momento
Feromônios

[19º HollyShorts Film Festival]

Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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