Crítica | Streaming e VoD

Um Dia Difícil

Revisão em caráter industrial

(Sans répit, FRA, 2022)
Nota  
  • Gênero: Ação
  • Direção: Régis Blondeau
  • Roteiro: Régis Blondeau, Julien Colombani
  • Elenco: Frank Gastambide, Simon Abkjkarian, Michael Abiteboul, Jemina West, Tracy Gotoas, Serge Hazanaviucius, Victoire Zenner, Perez Michael, Nabil Missoumi, Blaise Ludik
  • Duração: 95 minutos

Carregado de tensão, esse Um Dia Difícil me chamou atenção pelo título de cara. Estreia de hoje da Netflix, eu sabia que já tinha visto algo com essa nomenclatura e não deu outra, trata-se do remake de um original coreano de mesmo título aqui no Brasil que ficou até bem conhecido no país. Não há muita diferença em trama e desenvolvimento, então o trabalho a ser apreciado aqui envolve realização e especificidades outras que não incluam o desenvolvimento do novo. Aqui, estamos em terreno francês, lugar esse que o streaming – principalmente a Netflix – tem encontrado para suprir essas carências do cinema policial local, incluindo um indicado aos César de hoje (BAC Nord: Sob Pressão).

O filme é protagonizado por uma mistura de Jason Statham com Vin Diesel, Franck Gastambide, que tem um pouco das feições dos dois, e do carisma mais do primeiro, e resolve bem as partes física e emocional de um filme que, na verdade, não se passa apenas em um dia, como o título em português sugere. São alguns dias muito repletos de perigos constantes, tentativas muito surtadas de se resolver de problemas, que incluem arrastar um corpo por um duto de ventilação, jogar dinheiro no vaso sanitário, violar o túmulo da própria mãe, entre muitas peripécias. O ator dá conta de passar todo desespero possível dentro de um cenário realista, mas cheio de incontáveis reviravoltas.

O filme é a estreia na direção de Régis Blondeau, um fotógrafo com muita experiência, que carrega esse lugar de responsabilidade imagética em sua primeira incursão atrás das câmeras no controle de um set. O filme não é necessariamente muito bem fotografado, mas tem suas soluções visuais resolvidas com alguma eficiência, como a cena onde dois policiais brigam dentro de um banheiro. Mas era de se imaginar uma preocupação maior com o caráter estético do filme, o que não há; vemos uma produção dessas em linha industrial feita pra agradar o espectador do momento ao sentar na frente da tv por hora e meia, e deixar a vida seguir.

Apoie o Cenas
Um Dia Difícil (2022)
Jean-Michel Clajot/Netflix

A montagem sim é de um especialista em longas de terror de orçamento mediano. Baxter esteve por trás de Piranha, Espelhos do Medo, Viagem Maldita, Maníaco, Amaldiçoado, entre tantos outros, e ele sim dá ao filme o que ele precisa: ritmo e concisão narrativa. É tudo muito compacto e resolvido com rapidez, o que não significa exatamente uma qualidade do roteiro. Não temos a percepção exata do tempo passando, o que envolve a produção em um contexto de urgência infinita, mas também não nos deixa a par de uma situação que necessitaria dessa camada de conhecimento. Sozinha, a montagem faz o serviço que o roteiro não consegue arrematar a contento.

Na verdade, além do protagonista, o filme tem um elenco todo muito acima da média, competente e envolvido com a proposta. Chama a atenção o ator Simon Abkjkarian, que acaba de ser visto em A Professora de Violino em composição e perfil absolutamente oposto ao daqui, se saindo muito bem em diferentes empreitadas ao mostrar dois lados tão díspares. O grupo inteiro é muito coeso, resolve muito bem a intimidade necessária para que entendamos todos como “uma família” (expressão que é comumente repetida), e para que possamos lamentar as eventuais baixas em cena, embora também o roteiro não os sirva de grande complexidade com o qual tenham de desenvolver.

Se no original, era a urgência que dava o tom da gravidade das situações exploradas pela narrativa, transformando a jornada do protagonista em uma jornada ao inferno, aqui nesse novo Um Dia Difícil essa tentativa de realizar algo parecido se concretiza em parte, mas não por conta da sua base, mas dos elementos que se cercaram na narrativa. É uma estreia honesta, mas nada demonstrativa de recursos ilimitados, que é bastante ajudada por tudo ao seu redor – elenco e montagem, principalmente. Vale a sentada na frente da TV, principalmente se o original não for de seu conhecimento.

Um grande momento
O soldadinho no duto

Curte as críticas do Cenas? Apoie o site!

Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
Assinar
Notificar
guest

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.

0 Comentários
Inline Feedbacks
Ver comentário
Botão Voltar ao topo