Crítica | Streaming e VoD

Thelma, O Unicórnio

O importante é ser você

(Thelma, The Unicorn , EUA, CAN, 2024)
Nota  
  • Gênero: Animação
  • Direção: Jared Hess, Lynn Wang
  • Roteiro: Jared Hess, Jerusha Hess
  • Duração: 88 minutos

Animações, por mais elaboradas que sejam, geralmente contam com uma moral da história com uma base simples para poder acessar da mesma forma os adultos e as crianças. Durante alguns anos, a Pixar tratou de mudar essa máxima, apresentando para o público infanto-juvenil títulos cada vez mais complexos, que nem sempre conseguiam ter sua narrativa abraçada. Com a chegada da Netflix ao mercado cinematográfico, a animação de caráter essencialmente infantil passou a fazer parte de seu interesse, e vários sucessos foram produzidos, como Klaus e Leo. Thelma, O Unicórnio é uma nova tentativa deles em aplacar a sanha infantil por material novo, regando o roteiro com uma mensagem até repetida, mas que continua funcionando muito bem. 

A ideia aqui é mostrar às crianças que a verdade não apenas deve vir em primeiro lugar, como ela deve fazer parte da essência de cada um. Quando nos mostramos da forma como realmente somos, e não nos vemos como um impostor tentando adentrar um lugar que não nos pertence, todos conseguem enxergar a verdade de nossos sentimentos. A protagonista de Thelma, O Unicórnio é uma pônei que não consegue ser notada em sua arte – seu sonho é tornar-se uma estrela da música. Quando uma série de acidentes a “transforma” em um unicórnio, ela abraça as oportunidades que aparecem, mesmo que isso signifique fingir ser algo que não é. A partir daí, o filme corre por uma linha esperada, mas que é essencial para que tais clichês se apliquem. 

Thelma, O Unicórnio é baseado em uma série de livros de Aaron Blabey, adaptados pelo casal Jared e Joshua Hess, no qual ele dirigiu ao lado de Lynn Wang, que é sua estreia. Já Hess, é o diretor do celebrado Napoleão Dinamite, um pequeno clássico do cinema indie sobre um outro dissidente dentro de seu próprio universo. A história do vilão daqui inclusive parece inspirada no protagonista desta comédia, uma figura oprimida na escola que tenta se enturmar de maneiras pouco ortodoxas. Infelizmente o vilão não tem maior abrangência no roteiro aqui, com o espectador se fixando na personagem-título, que domina o terreno que é construído a respeito da auto-aceitação e da forma como nos vemos, e também como nos vendemos para o próximo. 

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Com um colorido charmoso e um certo ar setentista na forma como os personagens se vestem e se comportam, Thelma, O Unicórnio não é vestido nessa época por acaso. A década de 1970 funcionou como um período de desbunde no mundo inteiro, onde cada um pode atentar para desfrutar liberdades individuais tanto para expressar sua personalidade quanto para defender ideais, em meio a tantas ditaduras latinas. Os figurinos e acessórios do filme conjugam esse recorte do tempo de uma maneira que intensifica essa própria busca do filme, por compreender essa necessidade intrínseca do ser humano em encontrar sua essência e poder exercê-la sem precisar de máscaras. Isso é um bônus observacional que não grita para ser percebido, e por isso mesmo torna-se ainda mais bem orquestrado. 

Bem curto e com um ritmo muito ágil, com uma história que poderia se desenvolver por uma duração bem maior, a concisão de Thelma, O Unicórnio é um trunfo. Tudo que precisa ser contado de importante não é mitigado pela produção, apenas temos em mãos um filme onde tais elementos se mostram com rapidez e naturalidade. É um mundo onde animais e humanos conversam entre si, onde disputas musicais acontecem entre homens, mulheres e bichos, e tudo é normal assim. Não é preciso tentar entender os motivos pelo quais as coisas são expostas dessa forma, quando sua mensagem tem a ver essencialmente com exercer a própria personalidade de uma forma que não incomode ninguém e ainda revele o melhor de si. Está dito tudo a partir daí. 

Um grande momento
O videoclipe

Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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