Crítica | CinemaDestaque

Morando com o Crush

Foco no casal

(Morando com o Crush , BRA, 2024)
Nota  
  • Gênero: Comédia romântica
  • Direção: Hsu Chien
  • Roteiro: Sylvio Gonçalves
  • Elenco: Giulia Benite, Vitor Figueiredo, Marcos Pasquim, Carina Sacchelli, Julia Olliver, Ryancarlos de Oliveira, Luisa Bastos, Juliana Alves, Ed Gama
  • Duração: 88 minutos

Luana é apaixonada por Hugo em silêncio, e vive esse amor à distância de maneira tranquila – ou com o máximo de tranquilidade que consegue, sendo uma adolescente. Quando o romance parece que finalmente terá uma vez na agenda do rapaz, algo inesperado acontece: o pai dela e a mãe dele declaram que se relacionam, e ainda mais, que o quarteto irá se mudar para o interior e morar juntos. Então, o que deveria ser uma provável tentativa de romance teen se transforma em algo parecido com um casamento compulsório, sem sequer ter rolado um beijo… e casamentos não são assim? Essa é a premissa de Morando com o Crush, primeiro filme de Hsu Chien a estrear desde… bom, desde hoje, já que também hoje os cinemas estão recebendo De Repente, Miss!

Desde que começou esse fenômeno incontornável do cinema brasileiro atual, aquele onde muitos diretores tem aprontado dois, três, até quatro filmes, antes do lançamento de pelo menos um deles, Chien é o capitão do time. No início do ano passado, tinha cinco filmes prontos antes de qualquer um ser lançado, algo que só deve ser comparado a profissionais da Índia, ou autores que se notabilizaram por isso, como Takashi Miike, Hong Sangsoo e Kiyoshi Kurosawa. No entanto, o cineasta de Um Dia Cinco Estrelas é um porta-voz do cinema popular mais próximo a falta de exigência estética possível, e por mais que seja contratado para diferentes projetos, eles não conseguem tipificar sua experiência adquirida. 

Mais uma vez, não falta elenco a Chien. Morando com um Crush mais uma vez mostra como o amadurecimento de Giulia Benite é evidente, e sua carreira tende ainda a ser muito mais celebrada em futuro muito próximo. Além de tudo, a química que ela estabelece com Vitor Figueiredo (outro jovem muito promissor) é absurda, e carrega mais de 50% do nosso tempo com o filme. São deles a tarefa de nos resgatar toda vez que o filme ameaça naufragar, o que não acontecem poucas vezes; olhando pelo lado positivo, são mais chances que eles tem de mostrar serviço. Ed Gama tem uma participação muito simpática, e o casal adulto formado por Marcos Pasquim e Carina Sacchelli também funciona. Não consigo entender como uma atriz como Juliana Alves faz uma participação tão irrelevante, mas isso é um problema menor em um quadro tão repleto de outros tantos, como os muito fracos Julia Olliver e Ryancarlos de Oliveira. 

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Me pego pensando, no entanto, se não é mais uma vez um problema que cabe a Chien, e que ele não resolve. Porque é claro que não existe uma consistência na direção de atores, o que denuncia todas as outras inconsistências do trabalho de direção, como os habituais problemas de decupagem que o diretor constantemente apresenta. Raras são as escolhas de enquadramento de Morando com o Crush que fazem sentido, ou são bem acabadas; não surpreende que sejam constantemente sujas por um elemento vazio, por um corte de perspectiva, ou por uma decisão equivocada de planejamento. Além disso, a já tradicional desastrosa montagem continua a não dar ritmo contínuo ao filme, às piadas, e ao corte em si; o resultado é um filme que não parece bem acabado, mesmo que a arte se esforce. 

O roteiro de Sylvio Gonçalves, por exemplo, me parece prejudicado igualmente por Chien, que não consegue enxugar as rubricas que deveriam ter ficado no papel, ocasionando gorduras ocasionais ao tempo do filme e deformando as ideias da narrativa. Ainda que o currículo de Gonçalves não seja unificado, seu trabalho em Morando com o Crush em especial não é ruim, mas perde o realce diante da direção. Os personagens tem boa construção, suas ideias teriam possibilidade de desenvolvimento e um arco dramático atraente para todos, mas as escalações não foram as mais adequadas, e quando foram, o próprio diretor sabota o que melhor poderia ter sido ofertado ao público-alvo. 

Por melhores que sejam as molduras, as premissas, o elenco e a aparência dos filmes, e esses dois que estreiam essa semana tinham isso tudo de sobra, resta a experiência de Morando com o Crush em estar assistindo a mais um filme dirigido por Hsu Chien. Se tem uma característica que hoje pode ser aplicada a ele, é a de um diretor que sempre parece ter enfim chegado o momento de fazer jus às expectativas que colocam sobre ele. O lado bom é continuar tendo a certeza que seu próximo filme poderá enfim ser seu grande filme, o lado ruim é ainda não ter conseguido extrair quase nada de tudo que ele entregou até agora. E que venham os próximos dois – sim, ele já tem dois filmes novos rodados.

Um grande momento
Luana e Hugo fazem um acordo inicial

Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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