Crítica | Cinema

Um Dia Cinco Estrelas

Condução perigosa

(Um Dia Cinco Estrelas, BRA, 2023)
Nota  
  • Gênero: Comédia
  • Direção: Hsu Chien
  • Roteiro: Ricky Hiraoka, Cris Wersom
  • Elenco: Estevam Nabote, Aline Campos, Nany People, Danielle Winits, Ed Gama, Marcos Breda, Carol Nakamura, Felipe Kannenberg, Hugo Bonemer
  • Duração: 88 minutos

Essa semana me perguntaram qual o último filme brasileiro a passar do milhão de espectadores; tal ‘honraria’, que em algum momento recentíssimo era algo menos extraordinário (já tivemos mais de um ano onde mais de 10 títulos passaram da marca, não longe), cabe a Minha Mãe é uma Peça 3, nossa Maior Bilheteria da História – passando dos 12 milhões de pagantes – e derradeiro filme do já saudoso Paulo Gustavo. Nos últimos três anos, principalmente graças a pandemia, nosso número maior foi Turma da Mônica: Lições, que ano passado fez quase 800 mil espectadores. Essa introdução é pra dizer que Um Dia Cinco Estrelas, estreia nesta quinta e candidato a galgar posições no ano onde menos tivemos participação nos lucros mesmo comparando com 2021, auge da covid-19, não parece almejar os lucros de 2023, mas provavelmente o faria em 1983. 

Tentando olhar com algum carinho, Um Dia Cinco Estrelas se assemelha a um filhote perdido de algum exemplar do fim da pornochanchada, só que sem qualquer pornô e cuja chanchada não chama a atenção de ninguém. Restaram do subgênero apenas os estereótipos cômicos, as piadas cansadas, e ainda mais problemático que isso, e que preciso retomar tematicamente, como continua faltando ‘timing’ cômico não aos atores das produções, mas às produções em si. Se eu preciso assinalar quando a montagem de uma comédia é efetiva no que precisa ser feito, que é exatamente ter o tempo certo do corte de cena para que tal piada funcione, tenha ela a idade que for, é igualmente preciso apontar quando o oposto ocorre, como aqui. 

Um Dia Cinco Estrelas
Divulgação

No comando de Um Dia Cinco Estrelas está Hsu Chien, profissional de ritmo frenético atrás das câmeras (vide ter rodado CINCO filmes ano passado), já lançando seu segundo título apenas esse ano, após Desapega!. Sua carreira está na assinatura de número seis como titular de longa metragem e brevemente isso se consolida muito acima, mas na assistência de direção os números ultrapassam os 80 títulos. Apesar disso, não é observado aqui uma evolução no gênero, mas retrocesso nas ferramentas de criação, ou melhor, uma estagnação; como já dito, não são apenas as piadas ou o tempo delas que não encontram melhores dias aqui, mas todo arcabouço cinematográfico parece não dar as caras aqui. A verdade é que não tem muita diferença entre o que vemos e o piloto de uma série para o Multishow, dessas atuais que não conseguem chegar à segunda temporada. 

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Se Ninguém Entra, Ninguém Sai tinha uma premissa interessante, Quem Vai Ficar com Mário? é sua empreitada mais bem sucedida, e em Me Tira da Mira existia um flerte com o cinema de ação, Um Dia Cinco Estrelas não se justifica em nenhum campo, ao mesmo tempo em que reconhecemos o autor de todos os anteriores. O roteiro é daqueles tipos antiquados que tentam vender alguma novidade (como a espinha dorsal de aplicativos de transporte, e o lugar modificado entre homens e mulheres dentro do quadro familiar), mas que em sua gênese, só vendem representações equivocadas de gênero com um humor que se divide entre não funcionar e não existir. Ainda que saibamos que o gênero é pessoal, a popularização da comédia não precisa transformá-la em algo desgastado. 

Um Dia Cinco Estrelas
Divulgação

A abertura do texto, com números e títulos que não correspondem a esse aqui, é reiterada pela preocupação de que os números não crescerão com filmes como Um Dia Cinco Estrelas, que não conseguem suscitar qualquer mínimo interesse no público, ou promover predicados que aqui não existem. A comédia nacional não tem atraído o público de outros tempos em muitos casos por se tratar de materiais tão problemáticos como aqui, onde nem o humor se faz presente, nem as qualidades técnicas ajudam a amenizar o quadro geral. Escrito por Cris Werson e Ricky Hiraoka (o homem por trás de Os Parças; deu pra entender né?), o filme carece de quase tudo que o definiria como um produto menos televisivo. 

O elenco é de quem verdadeiramente sentimos compaixão, em cena. Profissionais como Estevam Nabote e Nany People são bons demais e não conseguem ter culpa do que acontece em cena, tentam defender seus talentos como podem, embora pouco possam fazer de efetivo. Danielle Winits faz uma linha histérica que talvez caiba em algo como Um Dia Cinco Estrelas, e a atriz domina muito bem essas válvulas desse tipo de humor; sua entrada em cena ameniza o que não estava se realizando até então. Sua participação é muito pequena para surtir efeito, no entanto, e todo o resto parece se dividir entre o constrangimento de estar em cena, e a falta de noção de como se portar em cena, ainda que seja interessante o resgate de Luciene Adami. No fundo, o elenco entendeu que não fazia diferença em tentar algo, porque a chance de escapatória dessa condução rumo ao acidente inevitável.

Um grande momento

A entrada em cena de Betina

Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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