This is Me… Now: A Love Story

Confesso que nunca tinha parado para assistir a um desses alardeados ‘álbuns visuais’ que se tornaram cada vez mais presentes na indústria desde que Beyoncé lançou Lemonade. E confesso também que não sabia que This is Me… Now: A Love Story, que acaba de estrear no Prime Video, se tratava de um deles. Porém não nego desafios, e se trata de material de audiovisual, então sigo tentando explorar novos olhares para obras disparatadas do setor industrial. A estrela da vez é Jennifer Lopez, que já viveu muitos momentos como atriz e cantora, e cuja vida pessoal é um poço de interesse a tablóides de todo mundo, então na tentativa de tornar rentável essa busca que ela não tem como impedir, Lopez lança o que ela vem chamando de um retrato seu, de sua história pessoal. 

O projeto consiste na leitura do álbum da artista, ‘This is Me’, com tradução para a mídia visual, e aproveitando que Lopez tem declarado que esse é um grupo de canções que conversa particularmente com ela, com suas relações amorosas e as reflexões que ela apresenta. As coisas passeiam entre o onírico assumido e uma visão fantasiosa de como funcionam nossas próprias escolhas emocionais, vistas por dentro. Com zero realismo, seja estético ou narrativo, This is Me… Now: A Love Story precisa ser colocado nesse campo do sonho, onde somente associações da ordem do delírio são capazes de abarcar nossas certezas quanto ao que estamos vendo. Destravar os sensores críticos para o realismo e se deixar levar pela imaginação. 

O que mais impressiona em This is Me… Now: A Love Story, no entanto, não são os seus efeitos especiais artificiais, ou sua direção de arte extremamente elaborada; creio que tais elementos se solidificam justamente em cima de uma proposta que não tem vergonha do que está sendo impresso na tela. A bordo de qual mensagem que isso se sustenta, essa sim é uma ideia complexa de avaliar, principalmente vinda de uma figura feminina como elaboradora. Em um tempo de empoderamento e de liberdade de escolhas para a mulher, que JLo opte por celebrar o amor é algo a ser aplaudido. O que entorta seu discurso é quando ela a todo momento repete, reafirma e escancara que não existe outra possibilidade de felicidade que não a de estar junto de alguém, dependente de um sentimento. 

Nesse sentido, a atriz que finalmente se revelou em As Golpistas (e pelo qual deveria ter sido agraciada com um Oscar) se assemelha à Monica Martelli, que lançou seu maior hit Os Homens são de Marte… e é Pra Lá que eu Vou! na esteira desse mesmo discurso. Repetindo que não existe nada que possa negativar a busca pelo amor romântico ainda que desenfreado, mas meu senão é com essa mensagem surgir como algo determinante para que todos os problemas de sua vida sejam exterminados. Não é apenas um alerta de fraqueza para qualquer espectador, principalmente às mulheres, como é redutor inclusive da mensagem cinematográfica, que reduz o potencial de discussão de This is Me… Now: A Love Story ao acatar a uma pressão social tão retrógrada. 

Com esses dados em mãos, nada do que a produção possa apresentar que recupere qualquer outro discurso, apaga o que o filme propaga. Que as imagens são berrantes e que a visão que JLo tem a respeito de si mesma é um desserviço à inúmeras causas, isso nem se discute. Mas ao juntar tantos problemas em um único combo de 1 hora, o resultado é uma produção que nos perguntamos a todo tempo como conseguiu ser levada adiante. This is Me… Now: A Love Story tenta provocar inquietação ou que possamos absorver o estado de paixão no qual a artista se entrega a suas referências e homenagens, mas quase udo a que o filme se propõe acaba saindo pela culatra. Salvam-se a dança energética da cantora e seus bailarinos, e a extravagância colteiva que chega a incluir uma roda onde os signos do zodíaco conversam entre si e mostram mais discernimento que a cantora. O que ficará para a posteridade, no entanto, é que JLo precisa de um Minha Vida em Marte urgente para se redimir quanto a um esquema de prisão que ela tem prazer de se jogar. 

Um grande momento

A casa de vidro