Crítica | Festival

Casa Blanca

(Casa Blanca, MEX, POL, CUB, 2015)

  • Gênero: Documentário
  • Direção: Aleksandra Maciuszek
  • Roteiro: Aleksandra Maciuszek, Javier Labrador Deulofeu
  • Duração: 60 minutos
  • Nota:

O modo como um documentarista interage com seus personagens é sempre um dos pontos mais interessantes a ser analisados no cinema documental. Em Casa Blanca, filme apresentado como trabalho de conclusão de curso da cineasta polonesa Aleksandra Maciuszek, é impressionante perceber como a diretora, sempre invisível, integra-se ao cotidiano de seus retratados.

O método de observar, sem interferir no ambiente ou incentivar respostas e reações, exige uma grande intimidade com aquele universo que está diante da câmera, seja com o próprio espaço físico e as pessoas.

E é assim, como observadores silenciosos, que Maciuszek nos expõe a vida de uma mãe e um filho. Neusa é uma senhora de idade já bastante debilitada e Vladimir, portador de síndrome de down. Ambos precisam de cuidados especiais que não têm e são muito explícitos quanto ao afeto que sentem um pelo outro.

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Encontrar essas pessoas e conseguir retratá-las poderia ser mais um ponto positivo para a diretora se não fosse uma questão mais sensível envolvida: aquelas duas pessoas têm condição de autorizar a exposição de suas vidas? Uma senhora que, da metade para o final do filme, mal se comunica, e um jovem que, apesar dos 37 anos, é obviamente comprometido pela doença, podem compreendem o que será aquilo de verdade?

Casa Blanca, documentário

E essa é apenas a mais grave das falhas do longa-metragem. Embora consiga, em vários momentos, ser poético na exposição daquele amor, com momentos singelos e delicados, há um apego à miséria humana impossível de ser ignorado. O fato de fazer questão de fotografar o menino apavorado com as brincadeiras dos moradores do local ou sua embriaguez durante uma discussão com a mãe, cenas de cortar o coração, transforma qualquer boa intenção do filme.

Some-se a isso o fato de Maciuszek deixar transparecer uma curiosidade sádica, que expõe a miséria até o limite, mas depois se afasta dela, como se aquela realidade tivesse deixado de existir ao final do último take. Pensar que ela é alguém que não pertence àquela sociedade e, muito pelo contrário, é uma estudante estrangeira, torna o resultado ainda mais reprovável.

Casa Blanca pode até surpreender pela pesquisa e pelo apuro na captação de imagens e montagem final, mas o que se vê na tela é a exibição sensacionalista da vida de pessoas que mal sabem o que está acontecendo. Mesmo que se esconda atrás do afeto, não é a ternura que busca nos espectadores, mas uma reação à miséria, elemento que explora da primeira à última cena.

Muito além da chamada patrulha do politicamente correto, o documentário tem problemas éticos. E contra estes problemas, não há perfeição estética que dê jeito.

Um Grande Momento:
Príncipe de olhos puxados.

Casa-blanca_poster

[26º Cine Ceará]

Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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