- Gênero: Drama
- Direção: Sandra Kogut
- Roteiro: Iana Cossoy Paro, Sandra Kogut
- Elenco: Regina Casé, Rogério Fróes, Gisele Fróes, Jéssica Ellen, Alli Willow, Otávio Müller, Saulo Arcoverde, Edmilson Barros, Charles Fricks, Gustavo Machado, Carla Ribas,
- Duração: 94 minutos
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Natural que no meio de todo o caos político e social a criatividade se apresente. Ainda que em vieses diferentes, afinal, cada vivência é única, temas se repentem em livros, seriados, charges, quadrinhos e também no cinema. Três Verões é um filme que trata de temas atuais, como o abismo de classe, a relação com empregados domésticos e corrupção; encontra o momento adequado, mas não consegue trabalhar muito bem aquilo que quer abordar.
Sandra Kogut, com um roteiro dela própria e Iana Cossoy Paro, cria um universo pouco crível por conta da superficialidade com que o explora, e, mais grave, não consegue estabelecer o vínculo necessário com sua protagonista, nem o do púbico com ela e nem o da personagem com o seu ambiente. E olha que Regina Casé tem carisma e se relaciona muito bem com a câmera, mas parece nascer uma barreira entre ela e o que está à sua volta.
Sua Madá, assim como a Val de Que Horas Ela Volta? é uma personagem parada no tempo, alguém que não percebeu as mudanças sociais ocorridas no país. Ela vive para os patrões e seus sonhos dependem dos “favores” que eles a fazem. Ainda que se tente criar uma figura simpática, carismática com sua gentileza, diversão e preocupação com todos que a cercam, Três Verões comete um dos mais graves pecados: ele julga, ainda que inconscientemente, aquela mulher.
Passagens constrangedoras como suas reações à busca da polícia, toda a transação do dinheiro/celular, a conversa com a americana e a ignorância na garage sale são retratos de uma visão classista e bastante complicada. Como denunciar uma realidade tendo com ela a mesma relação repleta de estereótipos e pré-determinações? A contradição é tanta que não há carisma ou empenho que faça com que o transmitido seja menos incômodo.
Para completar, há uma dificuldade muito grande em se perceber qualquer nuance nos personagens satélites. Desenvolvidos de maneira bastante superficial, com passagens rápidas e confusas pela trama, é como se aquelas histórias de vida não encontrassem qualquer ponto em comum. Embora tenha cenas tecnicamente interessantes, como o passear pelo churrasco, o que se vê são pessoas sem individualidades que se misturam sem conseguir se conectar.
Com a dificuldade de imersão e o desacerto – ou equívoco – da abordagem, Três Verões é uma obra que não sobrevive a si mesma. Seja como denúncia ou entretenimento, vai tropeçando por todo o trajeto, criando um caminho custoso para se seguir e que desemboca numa tentativa de justificação pavorosa para a história daquela mulher. Um filme que quer ser bem intencionado, mas acontece no tempo errado, e do jeito errado também.
Um Grande Momento
As fotos no terreno.