- Gênero: Romance
- Direção: Bruno Garotti, Jamile Marinho
- Roteiro: Ana Pacheco
- Elenco: Lívia Silva, Ronald Sotto, Juliana Alves, Rogério Britto, Luis Lobianco, Rejane Farias, Bia Jordão, Gabriel Contente, Giovanna Chaves, Ana Bárbara
- Duração: 80 minutos
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O saldo da cinessérie Um Ano Inesquecível é positivo, sem sombra de dúvida. Chegando ao fim da tetralogia, apenas o primeiro, Verão, foi bastante abaixo da média. Os seguintes, Outono e Inverno, mostraram que a aposta da Prime Video foi mais que válida em adaptar contos de quatro autoras contemporâneas dedicadas ao universo jovem. Esse fim de semana, a estreia de Um Ano Inesquecível: Primavera mostra que apenas Cris D’Amato errou (feio) na confecção de seu episódio, e também aqui vemos um tanto de personalidade e cuidado com o material, com o universo filmado, e sem menosprezar o público a que é destinado. Ao invés disso, inclui outras faixas etárias a narrativa que está sendo contada, em defesa da arte como expressão de libertação.
Precisamos comentar sobre outra intersecção da série, além das óbvias que envolvem narrativa. Acho que já está no título base uma ideia de um ciclo que se encerra, para que novas órbitas possam chegar até suas protagonistas. É um grupo de jovens mulheres que precisa lidar com o fim, não aquele definitivo do passamento, mas com o encerramento de um momento crucial em suas vidas. Em Um Ano Inesquecível: Primavera isso significa romper a barreira da responsabilidade e dos sonhos que foram cultivados à nossa revelia. Isso intrinsecamente também está em Inverno, mas enquanto lá existia uma melancolia no trato com essas verdades que precisam ser encaradas, aqui há o desabrochar para um tempo onde precisamos lidar com nossas ações, diretamente falando.
Aqui, Jasmine é flor que brota em solo mineiro, mais precisamente Ouro Preto, lugar onde a ação se passa. Do lado dos pais, a necessidade da prudência que um diploma universitário trará (ainda?); do seu, as raízes que a interligam com a avó, uma escultora talentosa que nunca foi reconhecida. Esse é o lugar onde a protagonista quer estar, nos desenhos que elabora em páginas de provas, nos presentes que oferece aos amigos, é sua natureza. Como vencer a resistência de quem viu as privações de perto em nome da arte? Um Ano Inesquecível: Primavera mostra como as inspirações de ‘humanas’ ainda estão sendo diminuídas pelas ‘exatas’, tratadas como extravagância de quem nasceu bem. Não parece, mas é um filme que fala sobre racismo estrutural sem isso jamais ser pauta.
Carregando essa pauta, Bruno Garotti recebe a companhia de Jamile Marinho na direção, e isso oxigena seu cinema. O homem por trás de Ricos de Amor volta ao tempo de Eu Fico Loko no que concerne à respiração em busca de um terreno pouco engessado. O olhar de Marinho é empregado para dar luz e expressividade a uma trama na qual Garotti não tem lugar de fala, e juntos ambos mostram as possibilidades de um produto que não precisa obedecer a um padrão único para suprir expectativas. É uma narrativa concisa, mas que conta de maneira consciente sobre uma fatia social que precisa abrir mão dos sonhos pela certeza, porque o mundo não foi feito para que todos vençam. É uma nova geração que irá mudar essa visão sobre o futuro que está impresso em cada cor de pele.
Esteticamente, Um Ano Inesquecível: Primavera talvez seja o mais evidente da série. Os figurinos de Fernanda Garcia e Renata Russo são um caso muito especial, que quase nos rouba a atenção das cenas, porque vestem os personagens, definem suas intenções, mostram que o trabalho dessas profissionais não está apenas no ato de impedir a nudez dos atores, mas de moldar junto à direção quem estamos conhecendo. Não são apenas bonitos e funcionais, mas descrevem com precisão a personalidade a que estamos sendo apresentados. A direção de arte de Rita Faustini também garante ao filme unidade, e monta um quadro de coesão ao projeto; muito bom ver tamanha dedicação aos seus setores que remetam também a algo superior, e não apenas a simples disposição de elementos.
Baseado no texto original de Bruna Vieira, Um Ano Inesquecível: Primavera ainda nos carrega para ação com as vozes de Ana e Vitória, as letras de Samuel Rosa (uma linda versão de ‘Três Lados’), Beto Guedes sendo mais uma vez reverenciado, e uma das mais bonitas canções da década passada, ‘Maior’, de Dani Black, ao lado do imortal Milton Nascimento. Ou seja, é uma surra de mineiros da melhor qualidade, que é mais um capricho capaz de elevar o que foi produzido em conjunto. Para fechar, o elenco lindo liderado por Lívia Silva, que abriga Juliana Alves, Rogério Britto, Luis Lobianco, Rejane Farias e os iluminados Gabriel Contente e Ronald Sotto, movem tudo na direção certa.
Esse fechamento lindo para as sagas das meninas que precisam crescer, independente do querer ainda consegue falar seriamente sobre as ameaças relacionadas a fraude escolar, um assunto ainda pouco explorado com a delicadeza que é vista aqui. Independente de não conseguir mais espaço para alguns personagens, e de precisar talvez de um pouco mais de tempo para unir fortemente suas vontades, Um Ano Inesquecível: Primavera completa o grupo de filmes com uma sensação que vai além da obrigação. Foi um prazer quase completo acompanhar o movimento que esses diretores, elencos e técnicos em busca de mostrar novos impactos sobre o crescer em alguém.
Um grande momento
O imbróglio da fraude