- Gênero: Comêdia romântica
- Direção: Mary Lambert
- Roteiro: Ally Carter, Kim Beyer-Johnson
- Elenco: Brooke Shields, Cary Elwes, Lee Ross, Andi Osho, Tina Gray, Eilidh Loan, Stephen Oswald
- Duração: 98 minutos
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Um duque arrogante e mau humorado. Uma escritora bela e bem sucedida. Um castelo na Escócia. Neve, natal, sons de gaitas de foles, lendas, muitas roupas de tartãs. Um cachorro fofo. Uísque do bom. Clima propício para o romance e ingrediente infalível para um romance açucarado ou uma comédia romântica cinematográfica, certo? Um Castelo Para O Natal está disponível e, ainda que tenha deméritos é pelos seus méritos que deve ser visto e encarado como um charmoso passatempo
Brooke Shields, a “pretty face” que optou por ter uma vida para além do estrelato, voltando a assumir um papel de protagonista após uns bons anos como coadjuvante no cinema e na tv, também assina como produtora executiva Um Castelo Para o Natal, onde vive Sophie Brown, a tal escritora best seller que logo começa uma situação de gato-e-rato com o Duque de Dunbar, vivido por Cary Elwes. E ter um galã de meia idade não realmente nada novo em se tratando dessa indústria mas a mocinha ser vivida por uma atriz com 56 anos num filme com tanto apelo mercadológico é algo sim a ser destacado, e que venham outras produções que não se preocupem com o ageismo na Netflix.
A participação no talk show de Drew Barrymore – que estreou na função de verdade em maio do ano passado – serve como incidente excitante para que Sophie fique numa situação ruim, olhe uma foto do pai quando criança, sorridente em frente ao castelo e decida deixar os EUA. Rua vai em busca de paz e sossego pra enfrentar as dores da separação, a la Cameron Diaz em O Amor Não Tira Férias, clássica rom-com natalina de Nancy Meyers.
Coração de uma guerreira
O eterno aventureiro Westley, pretendente da Princesa Prometida, Elwes empresta uma faceta sardônica e charmosa ao seu Duque Myles, o 12 de Dun Dunbar que está falido e precisa vender o castelo. O primeiro e segundo ato de Um Castelo Para o Natal são dedicados a explorar o tropo “enemies to lovers”, com Sophie se encantando pelo Castelo que não pode visitar com o pai e que só conhecia pelas histórias dele, com Myles a levando para fazer um tour pro lugar sem revelar que era o Duque para depois arquitetar um plano onde ela seria tão infernizada que desistiria de permanecer por lá. Tudo é executado com todas as doses de comédia e momentos românticos – tendo como cupido o cão Hamish, apenas adorável – que são pedidas na receita até que invariavelmente os rivais se apaixonam mas não sem continuar havendo desavenças sobre o castelo e seus destinos cruzados.
As gravações de Um Castelo Para O Natal foram em Dalmeny House e Tantallon Castle, localizados em Queensferry, nas proximidades de Edimburgo, não muito diferente do que narra o filme: Dun Dunbar ficaria a duas horas da capital escocesa. O nome que serviu de inspiração para as roteiristas foi retirado de um castelo real, Dunbar, cujas ruínas existem até hoje na pequena localidade de Haddingtonshire e que foi habitado até 1547.
E falando em tradição, ao longo de várias cenas de Um Castelo Para o Natal desfila uma coleção belíssima de tartãs, o tecido quadriculado presente em mantas, nos tradicionais kilts e também no majestoso vestido que Sophie encontra dando sopa em um dos 12 quartos do castelo.
“Eu te amo pacóvio”
Britânico, Elwes até que faz direitinho o complicado sotaque escocês – claro que ele não é Sam Heughan, intérprete de Jamie Fraser em Outlander mas consegue representar bem e até manda um “lass” para se referir à amada Lady Sophie McGuinty. E é bem legal ver a dificuldade da norte-americana Sophie em se comunicar com os escoceses mais “raiz” como o taxista do vilarejo ou mesmo receber uma aula sobre os dialetos e gírias diretamente do duque, como as mil variações existentes da palavra idiota.
Por outro lado, os personagens auxiliares do clube de crochê e o mordomo do castelo são estereótipos meigos porém pálidos e rasos. A trilha recheada de gaita de foles irrita um pouco assim como a falta de algum tempo dedicado ao background da família da protagonista, os McGuinty. O vestido de princesa, com um kilt para a noite de Natal relembrando a duquesa que se sacrificou lutando para defender o povo da vila e casou com um plebeu na véspera do feriado, tem um ar de conto de fadas que joga a favor. Mas na balança pesa mais o descompasso em todo o restante.
Mas para quem ama Outlander, Simplesmente Amor ou Casa Comigo? Comédia romântica com Amy Adams na Irlanda; para quem ouve os discos do Belle & Sebastian e imagina o clima dos descampados, colinas, castelos e terras altas, Um Castelo Para O Natal funciona.
Essa comédia romântica até que caminha bem e assim vai até o começo do terceiro ato invariavelmente o desfecho é semelhante a toda e qualquer produção cafona da Hallmark, o trabalho das roteiristas Kim Beyer-Johnson e Ally Carter não renda o tricô nem de um gorrinho infantil, de tão paupérrimo de ideias e esquemático que é – inclusive Beyer-Johnson assinou várias série e filmes do canal.
Mesmo que seja previsível enquanto narrativa, Um Castelo Para o Natal traz como lição que pode ser aprendida, como uma comédia romântica que não pretende provocar profundas reflexões nem mudar o cinema, de que quando ocorrem os reveses da vida sempre é possível olhar o todo, se reinventar e recomeçar.
Outro mérito é ter na direção Mary Lambert, cineasta veterana com uma importância a ser considerada nos anos 80, quando dirigiu o clássico Cemitério Maldito e videoclipes que moldaram a imagem de uma certa Madonna (Like a Virgin, Material Girl e Like a Prayer). Ela que tinha dirigido seu último filme em 2007 – o documentário 14 Women – e a esperança é que esse Um Castelo Para O Natal seja também simbólico para que a cineasta septuagenária retome outros projetos de ficção. Ela inclusive dedicou esse filme a memória da mãe, Martha Kelly Lambert que faleceu em abril deste ano e “entendia muito bem o espírito do natal”.
Ainda assim vale o play, pelo charme da Escócia e do casal central. Um Castelo Para o Natal é confortavelmente escapista – como um filme de natalino deve ser, mesmo que não seja daqueles memoráveis.
Um grande momento
Onde o quinto duque morreu