Drama
Direção: Marielle Heller
Elenco: Tom Hanks, Matthew Rhys, Chris Cooper, Susan Kelechi Watson, Maryann Plunkett, Enrico Colantoni, Wendy Makkena, Tammy Blanchard, Noah Harpster, Carmen Cusack
Roteiro: Tom Junod (artigo), Noah Harpster, Micah Fitzerman-Blue
Duração: 109 min.
Nota: 6
Estamos diante do melhor amigo da vizinhança, do bom e doce republicano Fred Rogers. Em tempos mundialmente polarizados, quando não se consegue enxergar nuances em lados opostos, é interessante que se explorem figuras como essa. Objeto do documentário Won’t You Be My Neighbor?, ele aqui serve como uma espécie de narrador para a história pessoal de Lloyd Vogel, um jornalista obrigado a se conectar com seu passado.
Em Um Lindo Dia na Vizinhança há muito desse lado pessoal de Vogel que, obrigado a escrever um perfil sobre o apresentador infantil, no meio do caos da própria vida, não consegue acreditar que alguém seja assim tão positivo. O estranhamento do protagonista encontra ecos na situação política contemporânea, o que faz do filme global e atual.
Tom Hanks encontra o tom perfeito para viver Rogers, algo tão verdadeiro que faz com que o espectador teste a todo momento seus próprios limites de crença. É um exercício por vezes exaustivo, mas sem dúvida interessante. Ainda mais caso se conheça ou se busque conhecer mais sobre o apresentador depois do filme.
A direção de Marielle Heller, porém, é muito dependente da capacidade interpretativa de Hanks e aí se acomoda. Embora tenha alguns lampejos de ousadia com os delírios de Lloyd e a postura resistente do personagem (em uma atuação correta de Matthew Rhys), não demonstra muita certeza de que caminho seguir, buscando sempre a figura de Hanks para reencontrar um equilíbrio que mais prejudica do que ajuda o filme.
Além disso, o longa investe no melodrama familiar básico, de resgate, e nem faz feio, mas também não faz nada muito diferente do que já vimos outras muitas vezes antes. Mesmo que tenham o seu carisma, os dois personagens principais estão presos a certos esquemas e condições pré-definidos pelo próprio roteiro baseado no artigo “Can You Say…Hero?”, assinado por por Tom Junod e publicado pela “Esquire” em 1998. Tudo fica, portanto, naquela condição de algo antigo e empoeirado, sem muita novidade.
Ainda assim, Um Lindo Dia na Vizinhança é um filme correto, que traz uma reflexão interessante sobre a multiplicidade de camadas em tempos onde é muito fácil determinar as pessoas superficialmente, definindo-as de pronto por ideologias. Porém, é uma época tão radical, que será preciso um esforço para que se pare e olhe para isso com boa vontade.
Um Grande Momento:
O delírio.
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[Festival do Rio 2019]