Crítica | Streaming e VoD

Ricos de Amor 2

Indo além da própria zona

(Ricos de Amor 2, BRA, 2023)
Nota  
  • Gênero: Comédia romântica
  • Direção: Bruno Garotti
  • Roteiro: Bruno Garotti, Sylvio Gonçalves, Maíra Oliveira
  • Elenco: Danilo Mesquita, Giovanna Lancellotti, Jaffar Bambirra, Lellê, Fernanda Paes Leme, Aline Dias, Roney Vilela, Adanilo, Kay Sara, Ernani Moraes
  • Duração: 85 minutos

Vamos combinar uma coisa? Teto, o protagonista de Ricos de Amor 2, é insuportável. Ou pelo menos era, tendo sido desenhado assim até a metade da produção. Fica difícil torcer por um casal protagonista quando desejamos algo melhor para Paula, uma moça cheia de qualidades presa a um cara “mimado e egoísta”, e isso é repetido algumas vezes na duração. Ou seja, há ênfase na informação para que o espectador não tenha dúvida de que não deve torcer por Teto. Mas estamos diante de uma comédia romântica produzida pela Netflix, ou seja, não há espaço para uma espécie de inovação narrativa qualquer, sem problemas. Esse filme é um produto feito para agradar às massas, e diante desse quadro, até um novo olhar é lançado na direção da obra. Além disso, ok, Teto resolve mudar – era obrigatório, né?

Antes de mais nada, já é curioso observar que Ricos de Amor teve uma continuação. Não por se tratar de uma produção boa ou ruim, mas porque tudo estava circunspecto àquele título, sem espaço de uma diferenciação. Você lembra de Amor ou Amizade, sucesso de 2000? Pois imaginem que alguém tivesse feito, três anos depois, uma continuação desse filme que você hoje nem lembra… mas tanto Bruno Garotti (o diretor do original) quanto Sylvio Gonçalves, na necessidade de escrever essa continuação praticamente partiram do zero. Sem nenhuma obrigação de continuar nada, é como se eles tivessem deixado o sabor do primeiro e a construção daqueles personagens, e partiram para uma outra viagem. No caso, literalmente até. 

Teto e Paula, casal com a cara da zona sul carioca, bonitos, jovens e bem sucedidos, saem do conforto onde estavam inseridos enquanto personagens para ter um contato adulto não apenas com a realidade, mas principalmente exercer o significado da empatia. E o que poderia ser uma continuação qualquer ganha um novo significado quando Ricos de Amor 2 se desloca para às margens do Rio Amazonas estabelecendo a importância de novas vozes, inclusive dentro da comédia romântica. Porque não é apenas uma inclusão espacial e narrativa o que acontece aqui, mas sua permanência dentro do que o gênero se propõe, ou seja, tornar-se vértice natural de um triângulo amoroso. Independente do resultado, a movimentação para esse fim já é tão interessante em representatividade, que isso contrasta com o estado letárgico das coisas na primeira parte. 

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Quando um filme tão comum ganha uma continuação, a coisa mais natural é que se consiga superar o original, e aqui isso é feito com alguma facilidade. Existe personalidade em Ricos de Amor 2, coisa que o original nem sequer sonhou. As características de Teto, embora absolutamente irritantes, dá o tom dos eventos, com Danilo Mesquita tendo que se deslocar tematicamente toda vez que alguém o alcança. Isso acaba quase tornando um gatilho do roteiro: quando a narrativa puxa para o trabalho, ele corre para o amor, e vice versa. O filme o pinta com a inconstância de alguém que não precisou lutar para ter o que tem, ou seja, ser rico é muito bom; a gente oferece dinheiro para pegar uma fantasia de um artista, ou pode parar a vida toda para se dedicar a uma viagem amazônica sem qualquer resquício de prejuízo. 

A direção de Garotti (que eu vou sempre lembrar pelo que conseguiu fazer em Eu Fico Loko e que já tem outro filme para esse mês, Um Ano Inesquecível: Primavera) se não elabora muito algo estético, também não tem uma Thati Lopes para domar como em Diários de Intercâmbio. Ricos de Amor 2 é uma ideia segura, com um desenho de produção esse sim mais arriscado, mas que não se desenha um desafio com qualquer autoralidade; estamos falando de material popular para exportação e consumo rápido. Quando estreou, na história de Christian Figueiredo, Garotti tentou colocar sua visão menos engessada e conseguiu um resultado elevado; talvez lhe falte, no futuro, perceber que uma coisa não anula a outra. 

O charme dos personagens já foi testado antes, e está todo o elenco de volta: Mesquita, Giovanna Lancellotti, Lellê, Jaffar Bambirra, Fernanda Paes Leme… a adição é a do elenco de origem indígena, capitaneados por Kay Sara e o talentoso Adanilo (Noites Alienígenas), mais Roney Vilela e Aline Dias. Já os personagens, são funcionais para o que o roteiro pede e muitos conflitos de coadjuvantes não são desenvolvidos, mas é interessante notar como a ação é contínua e sempre tem mais de uma frente de eventos ocorrendo em paralelo. Nada muito revolucionário, mas o suficiente para elevar Ricos de Amor 2 para um lugar além da mesmice anterior, dar um charme para longe do que o Sudeste oferece, e de quebra, oferecer reconhecimento de discurso a grupos que jamais fizeram parte de uma comédia romântica anteriormente. 

Um grande momento

A apresentação de dança

Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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