- Gênero: Fantasia
- Direção: Gil Kenan
- Roteiro: Ol Parker, Gil Kenan
- Elenco: Henry Lawfull, Maggie Smith, Jim Broadbent, Toby Jones, Sally Hawkins, Kristen Wiig, Michiel Huisman, Zoe Colletti, Stephen Merchant, Joel Fry, Rune Temte
- Duração: 106 minutos
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Como resistir a um filme de fantasia sobre a origem do Natal, que tem como contadora de história Dame Maggie Smith? Assim, a grande atriz britânica dá vida à Tia Vera, que narra para três crianças que ficaram órfãs de mãe a aventura de Um Menino Chamado Natal.
Não sem demora, a audiência da Netflix, ansiosa pela chegada de dezembro e também querendo alguma leveza e esperança dentre os conteúdos originais disponíveis na plataforma, em meio a tanto drama na vida real, içou o filme ao topo logo nas primeiras horas depois da estreia. Ainda que convencional na forma narrativa, essa adaptação do best seller do polivalente escritor Matt Haig – que também é produtor executivo junto com o roteirista Ol Parker – deve agradar tantos mais, com especial apelo a faixa etária entre os 8 e 15 anos.
“Esperança, magia e admiração”
Gil Kenan, roteirista de Ghostbusters: Mais Além e responsável também pela animação Casa Monstro é o responsável por adaptar para o cinema Um Menino Chamado Natal, agregando aqui e ali tons de inclusão, ao colocar no centro da história uma família não caucasiana, com um pai perdido e afundado no luto e três crianças entediadas. Elas e nós somos espectadores e parte da narrativa que agrega aqueles contos de formação tão importantes e cheios de lições para a vida, misturando elementos de Hans Christian Andersen, Roald Dahl, J. M. Barrie e Dickens com maior acerto que outra produção recente, para ficar só num exemplo: Alice e Peter: Onde Nascem os Sonhos.
Menos é mais e Gil Kenan extrai o que é essencial da história ingênua porém esperançosa e lúdica de Haig. Se Scrooge e os fantasmas de tempos passados ou a roupa nova do imperador rememoram sobre aquilo que realmente importa, a saga do menino Nikola (Henry Lawfull, praticamente desconhecido e bem promissor) começa na Finlândia, onde ele vive com o pai lenhador, que certo dia resolve se aventurar nas florestas geladas em busca da Vila dos Duendes e de uma recompensa real. Órfão de mãe, Nikola tem como único brinquedo um boneco de nabo e não demora a passar por algumas situações típicas das fábulas, como lidar com uma tia megera que o expulsa de casa, descobrir que seu camundongo de estimação não só fala como tem um humor sardônico e experimentar um pouco de magia.
“Cadê a mãe dele?
Sumiu dois anos atrás.
Desconfio que o urso teve algo a ver com isso”
Um Menino Chamado Natal é, para além de uma aventura fantástica cujo propósito é aquecer o coração e encantar, uma narrativa sobre resiliência e irmandade. A mescla que Kenan administra bem, entre as passagens ao longo da história e as intermissões das crianças, preocupadas com o destino de Nikolas e com a temida “hora de dormir”, dirigidas a Tia Vera, que responde sempre de forma curta porém divertida, sendo particularmente terna com o caçula que leva um tempo maior que os mais velhos para compreender momentos da história – dá um tom mais contemporâneo ao filme ainda que preservando a leveza necessária a esse tipo de produção.
Um elenco muito competente de atores britânicos – Toby Jones, Sally Hawkins, Jim Broadbent e Stephen Merchant – e até com Kristen Wiig fazendo o típico papel megera, abrilhantam mais Um Menino Chamado Natal. Hawkins inclusive, tão competente e merecendo mais e melhores papéis como em A Forma da Água, traz uma nota de emoção muito necessária ao arco dramático e a própria progressão da história como a Matrona dos elfos Dimelza, que detesta os festejos e as danças do Dia de Natal. É através dela que se desnuda as conexões entre a família de Nikolas e os elfos, o que reflete na questão central sobre do que se trata o próprio Natal: se uma data meramente comercial ou um dia de celebração dos afetos, da solidariedade e do espírito fraterno.
“Se acreditarmos em algo estamos no meio do caminho de atingir o que desejamos”
Como o resiliente David Copperfield, Nikolas – apelidado de Christmas pela mãe – acredita fielmente que a vida é melhor do que se mostra; não desiste de encontrar a Vila dos Duendes, de se unir ao pai e nem de fazê-lo enxergar o que realmente é importante na vida, nem de levar o rei a perceber que mais do que presentear a si é necessário ser um soberano generoso.
Um Menino Chamado Natal tem assim um desenvolvimento simples. “Dar o que se tem para mostrar que se importa, compartilhando alegria”, que é a tônica e lema principal na Vila dos Duendes se torna o espírito de Nikolas e a própria moral do filme, com uma cara bem próxima a de outros títulos natalinos ou não que costumavam aparecer na saudosa faixa de programação conhecida como Sessão da Tarde.
Um grande momento
O pingente