- Gênero: Fantasia
- Direção: Guillermo del Toro
- Roteiro: Guillermo del Toro, Vanessa Taylor
- Elenco: Sally Hawkins, Michael Shannon, Richard Jenkins, Octavia Spencer, Michael Stuhlbarg, Doug Jones, David Hewlett, Nick Searcy, Stewart Arnott
- Duração: 123 minutos
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Mais uma vez, Guillermo Del Toro (O Labirinto do Fauno) vai buscar em seus monstros e no universo fantástico sua metáfora para vida. A Forma da Água busca o contraponto ao homem que representa o mundo atual de Trumps e afins em um apanhado de minorias, representado em personagens simples e cativantes, que despertam a empatia imediata.
Del Toro usa a fabulação para contar sua história de preconceitos e exclusões, tão presente na sociedade, e encontra ecos no modelo de criação do inimigo, em voga hoje em dia. Tudo feito para deslegitimar aqueles que se encontram no lado mais frágil e para construir meios que justifiquem a exclusão.
![A Forma da Água](https://cenasdecinema.com/wp-content/uploads/2018/02/A-forma-da-agua_interno1.jpg)
Como era de se esperar, a concepção visual é um dos pontos fortes do filme, algo que está presente até nos filmes mais fracos do diretor, como A Colina Escarlate. O jogo das cores, destacado pela fotografia de Dan Laustsen (O Pacto dos Lobos) e pela arte de Paul D. Austerberry e Nigel Churcher (ambos de Pompeia), traz o contraste entre tranquilidade, renovação e a própria vida no verde tão presente e o arrebatamento da paixão, em vermelhos pontuais. Tudo milimetricamente calculado para não cansar o espectador, e, ao contrário, envolvê-lo na curiosa história de amor entre a princesa muda e o monstro aquático recém trazido da América do Sul.
Outro sentimento que o diretor faz questão de ressaltar é a nostalgia. Assistir à Forma da Água é como voltar às antigas sessões familiares onde se acompanhavam os clássicos filmes de monstros da Universal Pictures, que dominou o cinema do gênero a partir dos anos 1930. Uma obra em especial é lembrada, O Monstro da Lagoa Negra, que teve cópia restaurada exibida no Festival do Rio 2016 e foi relançado agora em circuito. O filme de Del Toro resgata aquele homem-peixe, que já impressionara em uma bela sequência aquática, quando acompanha de perto por mais de dois minutos a atriz Julie Adams, e toda a aura fantástica do filme de 1954.
Em um encontro menos conduzido pelo suspense/medo e mais pela bilateralidade do sentimento, aqui é Elisa, vivida por Sally Hawkings (Simplesmente Feliz), quem realiza a aproximação e traz o monstro para seu lado, iniciando assim o romance. A atriz inglesa dá leveza e adorabilidade à sua personagem, sendo difícil ficar alheio à sua presença na tela. E está muito bem acompanhada por Richard Jenkins (O Visitante) e Octavia Spencer (Histórias Cruzadas), como seus melhores amigos.
![A Forma da Água](https://cenasdecinema.com/wp-content/uploads/2018/02/A-forma-da-agua_interno2.jpg)
Um pouco mais afastados do cotidiano da relação amorosa estão Michael Stuhlbarg, que vem de uma sequência de atuações incríveis com outros dois filmes de destaque na temporada (The Post: A Guerra Secreta e Me Chame pelo seu Nome), aqui como o pesquisador responsável pelos estudos da criatura; e Michael Shannon (Animais Noturnos) como Richard Strickland, ou a representação do opressor. É neste personagem que o filme encontra o seu ponto fraco. Estereotipado e caricato, o vilão poderia ser desprezado, mas cabe bem no tom fabular e, de certo modo, maniqueísta do filme.
Assim como todo o personagem, algumas sequências, como a da revelação, também são óbvias e quase preguiçosas, mas nada que não tenha sua fraqueza bem trabalhada e disfarçada por todo o resto que o diretor constrói. Algo que dá espaço à ingenuidade, sem que isso se torne um problema. A Forma da Água é uma experiência nostálgica e encantadora, que transmite, entre suspiros e surpresas, a mensagem esperançosa que gostaria.
Um Grande Momento:
O balé aquático final.
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Oscar 2018
Melhor filme, melhor direção, melhor desenho de produção (Paul D. Austerberry, Shane Vieau, Jeffrey A. Melvin), melhor trilha musical (Alexandre Desplat)