- Gênero: Comédia
- Direção: Rachel Lee Goldenberg
- Roteiro: Goldenberg, Bill Parker, Jennifer Kaytin Robinson, Jenni Hendricks, Ted Caplan
- Elenco: Haley Lu Richardson, Barbie Ferreira, Giancarlo Esposito, Alex MacNicoll, Breckin Meyer, Sugar Lyn Beard
- Duração: 103 minutos
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“Porque temos que ter o consentimento dos pais para fazer um aborto mas não para ter o filho?”
Essa é a pergunta que Veronica joga no ar, para o universo solucionar, quando tudo parece perdido e ela vê a chance de não ser uma mãe que ainda nem se formou no ensino médio se solidificar. Ela é a personagem central de Unpregnant, um female buddy road movie produzido pela HBO que coloca um filme teen no subgênero do womance, ou seja, temos aqui uma comédia dramática que é um amálgama de Thelma & Louise com Juno.
Dirigido por Rachel Lee Goldberg, Unpregnant traz uma vibe Fora de Série — obra maravilhosa da Olivia Wilde — e é baseado no livro de Ted Caplan e Jenni Hendriks, que roteirizaram a adaptação junto com Lee Goldenberg e Jennifer Kaytin Robinson.
Bárbara Linhares Ferreira ou Babi Ferreira é a atriz norte-americana mas com sangue brasileiro que interpreta a outsider Bailey, enquanto Hailey Lu Richardson, que era uma das estrelinhas da Disney, faz os papéis de menina perfeita e popular (em Quase 18), como esse de Veronica Clarke — o tipo “que faz aborto e não conta para ninguém.”
Acaba que Unpregnant dá umas escorregadelas ao carregar nas tintas dos percalços no caminho da dupla até a clínica de aborto, como o namorado stalker que não avisa que a camisinha rasgou; as melhores amigas de Verônica “Mean Girls“; o pai ausente de Bailey que é um imbecil — mas pelo menos cumpre uma função dramática lá no terceiro ato. Apesar de não trazer nada de novo sob o sol quando se trata de womance ou coming of age Unpregnant, com uma fórmula repetitiva mas até que executada com graça e esperteza por Lee Goldenberg, entretém. A cena em que Bailey e Veronica fogem dos malucos pró vida é fofa e bacana demais pra quem curte.
“É por isso que sempre escolhemos a carona com a lésbica bonitona”
Giancarlo Esposito (indo para Albuquerque, local onde se passava uma série aí qualquer chamada Breaking Bad) faz uma ponta como Mitch/Bob, hilário, mesmo que superficial, sem grande desenvolvimento; mas com suas tiradas anti-establishment vale a assistida: “Se a amizade não fosse um conceito feito para prender pessoas eu diria que vocês são ótimas amigas.”
No arco das personagens, os fantasmas e mentiras vão ajudando as garotas a se apoiarem e se conectarem. A edição linear vai ajudando a imprimir o clima de urgência/iminente fracasso por não conseguirem chegar a tempo para o procedimento. Muito educadas pela cultura pop, a tentativa delas em pegar um trem em movimento também tem sua graça, com a constatação de Verônica que “os três são rápidos demais quando deviam ser mais lentos pra pularmos”. Elas acabam alugando uma limusine — simbólico demais, já que se trata do veículo que leva os casais ao baile de formatura.
Tá certo que o filme de Lee Goldenberg pega um caminho mais suave que Nunca, Raramente, Às Vezes, Sempre (a obra seminal e incompreendida de Eliza Hittman), mas ainda abre um espaço para a reflexão sobre a agência, isto é, a consciência que as mulheres adquirem sobre suas vidas e corpos e como isso vai de encontro aos ditames e a manutenção da “ordem natural das coisas” em uma sociedade patriarcal.
Um grande momento
Na loja de penhores