(Girls Trip, EUA/CAN, 2017)
Nesses dias de isolamento social, nada melhor para aquecer o coração do que uma boa comédia que exalte a amizade. Viagem das Garotas é aquele típico filme de reunião, onde quatro amigas da época de faculdade que acabaram se distanciando com a vida e vão resgatar os laços em uma viagem de um fim de semana para o Essence Culture Festival, em New Orleans.
Com um elenco de primeira linha, que conta com Regina Hall, Queen Latifah, Jada Pinkett Smith e Tiffany Haddish, e boas participações, muitas delas aproveitadas da edição do festival, o longa inicia seu caminho na diversão descompromissada, mas a simpatia com as personagens e com o modo como se estabelecem as relações, faz com que vá além do riso fácil.
Há uma coisa essencial no universo de Viagem das Garotas que o torna diferente de muitos outros e também divertidos filmes de reunião, como Se Beber, Não Case, Missão Madrinha de Casamento ou A Noite É Delas. Mais do que dar espaço de representação às mulheres, e de um modo muito natural, o faz com as mulheres negras. E é algo super importante quando se fala de representatividade, principalmente por seu alcance, uma vez que foi o primeiro filme afro-americano a fazer mais de U$ 100 milhões de bilheteria.
Enquanto Malcolm D. Leer tem consciência plena do potencial de seu quarteto de atrizes, o roteiro de Erica Rivinoja, Kenya Barris e Tracy Oliver aposta na simplicidade. Embora encontre brechas para passar o necessário recado a aproveitadores e equivocados de plantão, não vai muito além de formatos já tradicionais do gênero. São personagens bem definidas e bastante próximas de outras tantas que conhecemos: a perfeitinha, a ferrada de grana, a maternal sem vida sexual e a loucona, esta extraordinariamente vivida por Haddish.
O quarteto é construído no papel para se complementar, mas não deixa de ser interessante com ele se aproveita da identificação do espectador na percepção de todo o jogo de concessões e estranhamentos que está presente em qualquer relação, principalmente nas daqueles grupos que se conhecem a vida toda. Não tem como não associar, embora o exagero sempre destaque a ficcionalização, aquela que fala o que quer e estoura sempre, a que quer sempre apaziguar as coisas e levar a vida numa nice, a que é durona e esconde todos os problemas que enfrenta e a super sensível e perfeccionista, mas atrapalhada. São traços e posturas que chamam a atenção de acordo com quem assiste ao filme, mas que representam pessoas que, por nossa escolha, fazem parte do nosso dia a dia.
O filme também não faz qualquer questão de fugir dos assuntos que permeiam a vida de várias mulheres, principalmente as heterossexuais. E se isso era algo que não era pauta antigamente, tornou-se um discurso necessário nos dias atuais. Aliás, que ficaria muito melhor na tela se dirigido por uma mulher, vamos ressalvar aqui. Algumas apelações escatológicas também não são tão necessárias assim, mas nada que não sobreviva muito bem à diversão genuína que o filme traz.
Viagem das Garotas vai divertir, trazer associações gostosas – e nostálgicas nesses tempos de pandemia – e, assim, entreter quem se entregar a ele. Para finalizar, fica aqui o recadinho de Ryan para sua empresária (mas que serve para aquela galera branca que acha que pode sair por aí usando emojis de negros no whatsapp e furtando o protagonismo alheio):
“Por favor, evite dizer coisas como ‘preach’ ou ‘go, girl’, ‘bye, Felicia’, ‘ratchet’ ou qualquer outro coloquialismo que você tenha ouvido ou consultado no Urban Dictionary. Neste fim de semana, mais de meio milhão de mulheres negras de todos os tamanhos, tons e de todas as origens econômicas estão descendo para The Crescent City para celebrar a mulher negra em toda a suas formas gloriosas. Você, minha querida amiga, é uma convidada.”
Um Grande Momento
O abajur.
Na Netflix a partir de 20/7