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Viver Lá

(Vivir Allí No Es el Infierno Es el Fuego del Desierto La Plenitud de la Vida Quedó Ahí Como un Árbol, CHL/BRA, 2018)
Documentário
Direção: Javiera Veliz Fajardo
Roteiro: Javiera Veliz Fajardo
Duração: 70 min.
Nota: 6 ★★★★★★☆☆☆☆

No Deserto do Atacama, margeando a Quebrada Totoral, existe um povoado perdido. No meio da vastidão desértica, o verde se apresenta. De forma discreta, mas marcante. Com ele e nele, mulheres e homens idosos cuidam de suas cabras e galinhas. Viver Lá é sobre essa existência inusitada – ou não – em uma outra realidade, tão diferente da nossa.

Dirigido pela chilena Javiera Veliz Fajardo, o filme quer encontrar o tempo desse viver e experimentar essa vivência. Assim, aposta em longos planos gerais fixos, que observam eventos cotidianos como o resgatar duas cabras que caíram de uma colina, o voltar de uma galinha para o galinheiro ou o alimentar dos animais. O ambiente também é explorado pela câmera, que olha para os detalhes da vila, para a natureza do local e para a grandiosidade do deserto que cerca tudo.

Além da imagem, há um trabalho interessante com o som, que, com seu estranhamento, atiça o espectador a encontrar o que está por trás de tudo aquilo que está assistindo. Em tempos frenéticos, é difícil parar e observar. Aquele vislumbrar de imagens está repleto de mensagens e tem muito a dizer aos que vivem os dias sem sequer prestar atenção naquilo que está em seu caminho cotidiano.

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Fajardo fala de tempo e de como sua noção pode ser diferente, dependendo de onde se esteja. Fala de espaço, quando aproxima sonoramente aquilo que parece longe demais. Mais, fala do tamanho do ser perante a vastidão do mundo. Nas coisas banais e no modo de levar a vida mais simples, se encontra com esse espaço de ser e viver que é tão diferente do nosso, embora sigam os dias e as noites assim como nós.

O filme ainda passa por outras questões, como a geracional, quando se percebe que todos os personagens são idosos, ou mesmo a espera pelo fim da vida. São escolhas interessantes da diretora, que, como em todo documentário, constrói aquilo que pretende passar ao espectador, aqui usando também encenações. O tom observacional, porém, precisa de muita dedicação, algo que não deve encontrar em todos os públicos, e há alguma irregularidade na costura das imagens, com alguns fades orgânicos e outros tão trabalhados que passam do ponto.

Ainda assim, assistir a Viver Lá é ter uma chance de perceber o tempo e o espaço de uma nova maneira. É transitar entre ambientes que são incongruentes mas coexistem e ter a noção clara de uma vastidão que por vezes esquecemos. É como diz o título original do filme: Viver ali não é o inferno, é o fogo do deserto; a plenitude da vida que ficou aí como uma árvore.

Um Grande Momento:
A força da água.

Links

IMDb
https://www.youtube.com/watch?v=uujAIyU1a1s

Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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