(Dark Phoenix, EUA/CAN, 2019)
O mundo ainda precisa de filmes sobre os filhos do átomo, os Mutantes da Marvel criados por Stan Lee e Jack Kirby?
Após assistir à última parte da tetralogia desses novos X-Men, fica claro que não. Ou não enquanto velhas fórmulas seguirem sendo utilizadas à exaustão, sem arrojo nem inventividade. Roteirista de talento pífio, Simon Kinberg assume a direção após assinar os roteiros de títulos da franquia como X-Men: O Confronto Final, Dias de Um Futuro Esquecido e Apocalipse.
X-Men deu uma guinada boa com o frescor trazido por Matthew Vaughn com o reboot, reimaginação do universo mutante que é Primeira Classe. A parceria com a roteirista Jane Goldman, que vem desde Kick-Ass: Quebrando Tudo e se prolonga na franquia Kingsman, foi a responsável por não só trazer frescor ao universo X nos cinemas como criar dinâmicas envolventes entre os personagens icônicos da Marvel. O que dizer do tortuoso e apaixonado embate entre Charles Xavier (James McAvoy) e Magneto (Michael Fassbender)? Além da óbvia sintonia entre os atores, o desenvolvimento é tão bem feito que é sempre um prazer acompanhar o difícil equilíbrio da relação homoafetiva entre os dois “frenemies” – o que rendeu ao fandom o popular ship Cherik, e é só correr no Tumblr para constatar.
Voltando ao presente, esse Fênix Negra reconta a fatídica saga onde Jean Grey (Sophie Turner) conhece seu fim após travar contato com a entidade cósmica conhecida como a Fênix, que se apossa do seu corpo e se torna incontrolável. A hospedeira, uma poderosa mutante com dons telepáticos e telecinéticos é psiquicamente muito frágil, tendo traumas de infância que logo eclodem sob a influência.
Como não poderia deixar de ser, alienígenas malvados querem pôr as mãos no poder dela para levarem a cabo seus planos de dominação intergaláctica. Mas o que poderia ser mais interessante de se explorar no filme – o que ocorre na saga na HQ, primorosamente escrita por Chris Claremont – é a dor de Jean ao duelar com a Fênix, a culpa que Charles Xavier sente por ter erguido muros mentais na tentativa de protegê-la ou o dilema moral de Scott Summers, o Ciclope.
Para não dizer que a trama é idêntica a de O Confronto Final – também conhecido como o terceiro filme da primeira encarnação dos X-Men nos cinemas -, que, também roteirizado por Kinberg, tem como única diferença o fato de que, desta feita, Magneto é um elemento neutro no jogo de xadrez.
A preguiça do roteiro e da condução de Kinberg provoca uma irritação, talvez só atenuada pela morte patética de Mística (Jennifer Lawrence). A atriz, que já fazia hora-extra na franquia, foi responsável por mudanças substanciais nas tramas para poder conter o seu “star power”, além da química com Fassbender, que rendeu sequências para lá de dispensáveis e incongruentes com o background dos personagens.
Jessica Chastain provavelmente estava atrás de uma maneira simples de pagar o aluguel dispensando energia dramática ou fazendo um favor ao grande amigo James McAvoy ao aceitar o papel de vilã que, longe de ser unidimensional, é mesmo incipiente. Com isso, só resta constrangimento aos outros atores, como Nicholas Hoult que tenta dar alguma dignidade a seu personagem Fera.
A única coisa boa de Fênix Negra está reduzida às poucas cenas entre Magneto e Charles Xavier discutindo sobre intolerância, onde suas visões sobre a humanidade divergem e convergem. O que, convenhamos, é muito pouco, ainda mais em se tratando de X-Men e a infinidade de personagens interessantes que se apresentam.
Laura Shuler Donner, a toda poderosa produtora da franquia que elevou o status da Fox no jogo das adaptações de HQ, lá no início dos anos 2000, com o assediador Bryan Singer dirigindo e roteirizando os filmes, parece não mais se dar conta do potencial do material, que pode ser tanto evolutivo quanto destrutivo. Resta esperar que, como a Fênix mítica, os X-Men possam renascer das cinzas com uma encarnação que faça jus às melhores fases dos quadrinhos nessa nova saga dentro do MCU, sob a chefia de Kevin Feige.
Um Grande Momento:
“Eu nunca vou te abandonar.”