(Visita ou Memórias e Confissões, POR, 1982)
Direção: Manoel de Oliveira
Roteiro: Manoel de Oliveira, Agustina Bessa-Luís
Duração: 68 min.
Nota: 9
Como falar de algo que te emociona de uma maneira que te faz pensar que tudo o que você precisava ver e ouvir sobre a vida e as pessoas estava ali diante de seus olhos durante a sessão? Como se isentar ao ver o longa-metragem de alguém que já impressionou tantas vezes? Até que ponto o sentimento está contaminado de reflexos de uma saudade que começou a existir esse ano?
É assim, sem saber nenhuma dessas respostas, que tento falar sobre o “último” filme de Manoel de Oliveira (O Gebo e a Sombra). O último está entre aspas porque esse não foi o último filme que ele fez, muito pelo contrário. O média-metragem foi rodado em 1982, mas só poderia ser exibido depois da morte do diretor português, que só se foi aos 106 anos, no dia 2 de abril deste ano.
Visita ou Memórias e Confissões é um filme que fala da vida e das marcas que ela deixa por onde quer que passe, em memorabílias, imagens, bagunças, enfeites e memórias. Entramos no filme pela porta da frente da casa onde Manoel passou mais de 40 anos de sua vida e, como futriqueiros que somos, acompanhamos o casal que não vemos mas, ao mesmo tempo, nos guia e nos representa.
É bom ver e imaginar como cada uma daquelas coisas foi parar ali, pensar na disposição dos móveis, no tempo passado ali dentro. Cada detalhe, cheio de uma vida que não conhecemos, vai desenhando a pessoa que ali habitou. Como um ciclo, onde a pessoa trouxesse o objeto e o objeto trouxesse a pessoa, num reinventar e resignificar infinito.
Paralelamente, acompanhamos Manoel de Oliveira contando a sua história dentro daquela casa. Histórias familiares, se unem a histórias profissionais e ao amor por aquele lugar onde sua vida e a de seus filhos e netos aconteceu. O jogo com a mistura dessas duas histórias é incrível e reafirma a falta de limites da influência. Mais uma vez, é o homem contaminado pelo seu lugar e o lugar contaminado pelo seu homem, transformando-se sem o outro até deixar de existir.
O roteiro escrito por ele, com diálogos da escritora Agustina Bessa-Luís, constrói muito bem o paralelismo narrativo que acompanha todo o filme e faz de Visita e Memórias e Confissões um presente bastante íntimo para aqueles que conheceram o trabalho do diretor português e gostariam de conhecer mais sobre ele.
Mas vai além disso, sutil e envolvente, é uma obra que consegue falar de maneira única sobre a nossa existência e sobre aquilo que deixamos para trás. Sobre nossos anseios, frustrações, realizações, alegrias e tristezas e como isso fica marcado através de algo muito além de nossa presença.
Uma obra linda sobre a vida, o viver e o deixar de viver.
Um Grande Momento:
Voltando ao nada.
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