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Cinema Novo

(Cinema Novo, BRA, 2016)
Documentário
Direção: Eryk Rocha
Roteiro: Eryk Rocha
Duração: 90 min.
Nota: 9 ★★★★★★★★★☆

O cinema nacional estava morrendo. As chanchadas estavam esgotadas; os gigantescos estúdios, à beira da falência e o que era produzido aqui tinha, cada vez mais, a cara de cópia do que era produzido lá fora. Neste momento, um novo movimento veio sacudir a realidade nacional. Era o cinema novo. Idealizado por um grupo de cineastas e fortemente inspirado no realismo italiano e na nouvelle vague francesa, o movimento queria trazer às telas um cinema que refletisse a realidade social brasileira e que fosse feito com mais liberdade, sem gastar tanto dinheiro.

O cinema novo era a realização do sonho de vários diretores que, mesmo que seguissem caminhos diferentes, cada um com sua linguagem, queriam transformar a sétima arte no Brasil. E conseguiram, já que depois deles nada foi igual a antes. Entre eles estavam Leon Hirszman, Joaquim Pedro de Andrade, Nelson Pereira dos Santos, Ruy Guerra e Glauber Rocha.

Cinema Novo é uma espécie de carta de amor não só ao movimento, mas ao amor e à dedicação de todos à criação deste novo cinema. Dirigido por Eryk Rocha, filho de Glauber com a também cineasta Paula Gaitán, o filme engloba em um mesmo lugar cineastas que não seguiam exatamente a máxima de seu pai “uma câmera na mão e uma ideia na cabeça”, e que obviamente seguiam estéticas completamente diversas, mas que, de alguma forma, tinham essa transformação da arte como principal objetivo.

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Utilizando-se de imagens de vários filmes icônicos do período e um vasto material histórico de entrevistas com os realizadores, cerca de 500 minutos de material, o filme é uma reconstrução de tudo aquilo que expõe. O ritmo diferente impresso em trechos muito conhecidos, a ressignificação da imagem, uma nova contextualização do que se vê e a atualidade de eventos passados fazem do longa-metragem uma experiência envolvente, principalmente para os cinéfilos.

De homenagens à Humberto Mauro e Mário Peixoto à criação de um cinema social, com olhos voltados aos problemas do subdesenvolvimento, que se alastrou como as raízes de uma árvore notoriamente frutífera, Cinema Novo é irresistível.

A vontade de assistir a cada uma das obras citadas é igual a de estar ali, no meio daquele grupo, inventando algo novo, trazendo vigor a um cinema exausto e contaminado demais pela realidade externa, tudo com muito amor, com muita dedicação. As histórias, que se repetem infinitamente, como a do preconceito com o cinema nacional, a dificuldade na distribuição e permanência nas salas de exibição, o reconhecimento internacional que se choca com essa realidade nacional se contrapõe a toda a disposição, insistência e vontade de realizar de cada um dos personagens.

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Somado a isso há toda uma admiração e um carinho, inegáveis uma vez que a maioria dos que estão envolvidos na produção têm laços muito estreitos com os retratados, que transformam o que se vê em um daqueles filmes que emociona e fica com o espectador muito tempo após a exibição.

Cinema Novo entra em cartaz nos cinemas brasileiros no dia 3 de novembro e é indispensável a todos os brasileiros. Para ver e rever várias vezes, de preferência saciando toda a vontade que o documentário traz para dentro de cada um de redescobrir um cinema que veio para transformar e trazer para mais perto o que era daqui mesmo.

Um Grande Momento:
A caminhada solitária.

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Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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