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A Forma da Água

(The Shape of Water , EUA, MEX, 2017)
Nota  
  • Gênero: Fantasia
  • Direção: Guillermo del Toro
  • Roteiro: Guillermo del Toro, Vanessa Taylor
  • Elenco: Sally Hawkins, Michael Shannon, Richard Jenkins, Octavia Spencer, Michael Stuhlbarg, Doug Jones, David Hewlett, Nick Searcy, Stewart Arnott
  • Duração: 123 minutos

Mais uma vez, Guillermo Del Toro (O Labirinto do Fauno) vai buscar em seus monstros e no universo fantástico sua metáfora para vida. A Forma da Água busca o contraponto ao homem que representa o mundo atual de Trumps e afins em um apanhado de minorias, representado em personagens simples e cativantes, que despertam a empatia imediata.

Del Toro usa a fabulação para contar sua história de preconceitos e exclusões, tão presente na sociedade, e encontra ecos no modelo de criação do inimigo, em voga hoje em dia. Tudo feito para deslegitimar aqueles que se encontram no lado mais frágil e para construir meios que justifiquem a exclusão.

A Forma da Água

Como era de se esperar, a concepção visual é um dos pontos fortes do filme, algo que está presente até nos filmes mais fracos do diretor, como A Colina Escarlate. O jogo das cores, destacado pela fotografia de Dan Laustsen (O Pacto dos Lobos) e pela arte de Paul D. Austerberry e Nigel Churcher (ambos de Pompeia), traz o contraste entre tranquilidade, renovação e a própria vida no verde tão presente e o arrebatamento da paixão, em vermelhos pontuais. Tudo milimetricamente calculado para não cansar o espectador, e, ao contrário, envolvê-lo na curiosa história de amor entre a princesa muda e o monstro aquático recém trazido da América do Sul.

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Outro sentimento que o diretor faz questão de ressaltar é a nostalgia. Assistir à Forma da Água é como voltar às antigas sessões familiares onde se acompanhavam os clássicos filmes de monstros da Universal Pictures, que dominou o cinema do gênero a partir dos anos 1930. Uma obra em especial é lembrada, O Monstro da Lagoa Negra, que teve cópia restaurada exibida no Festival do Rio 2016 e foi relançado agora em circuito. O filme de Del Toro resgata aquele homem-peixe, que já impressionara em uma bela sequência aquática, quando acompanha de perto por mais de dois minutos a atriz Julie Adams, e toda a aura fantástica do filme de 1954.

Em um encontro menos conduzido pelo suspense/medo e mais pela bilateralidade do sentimento, aqui é Elisa, vivida por Sally Hawkings (Simplesmente Feliz), quem realiza a aproximação e traz o monstro para seu lado, iniciando assim o romance. A atriz inglesa dá leveza e adorabilidade à sua personagem, sendo difícil ficar alheio à sua presença na tela. E está muito bem acompanhada por Richard Jenkins (O Visitante) e Octavia Spencer (Histórias Cruzadas), como seus melhores amigos.

A Forma da Água

Um pouco mais afastados do cotidiano da relação amorosa estão Michael Stuhlbarg, que vem de uma sequência de atuações incríveis com outros dois filmes de destaque na temporada (The Post: A Guerra Secreta e Me Chame pelo seu Nome), aqui como o pesquisador responsável pelos estudos da criatura; e Michael Shannon (Animais Noturnos) como Richard Strickland, ou a representação do opressor. É neste personagem que o filme encontra o seu ponto fraco. Estereotipado e caricato, o vilão poderia ser desprezado, mas cabe bem no tom fabular e, de certo modo, maniqueísta do filme.

Assim como todo o personagem, algumas sequências, como a da revelação, também são óbvias e quase preguiçosas, mas nada que não tenha sua fraqueza bem trabalhada e disfarçada por todo o resto que o diretor constrói. Algo que dá espaço à ingenuidade, sem que isso se torne um problema. A Forma da Água é uma experiência nostálgica e encantadora, que transmite, entre suspiros e surpresas, a mensagem esperançosa que gostaria.

Um Grande Momento:
O balé aquático final.

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Oscar 2018
Melhor filme, melhor direção, melhor desenho de produção (Paul D. Austerberry, Shane Vieau, Jeffrey A. Melvin), melhor trilha musical (Alexandre Desplat)

Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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