Crítica | FestivalMostra SP

De Mãos Dadas

(Η Τέχνη Καταστρέφει, FRA/GRE, 2018)
Drama
Direção: Nikos Kornilios
Elenco: Aurora Marion, Kostas Arzoglou, Katia Leclerc O’Wallis, Estelle Marion
Roteiro: Nikos Kornilios, Evgenia Papageorgiou
Duração: 104 min.
Nota: 5 ★★★★★☆☆☆☆☆

O namoro entre o cinema e o teatro é algo que está desde o surgimento da sétima arte. Dos espetáculos filmados nos primórdios partiu-se para adaptações, criações meio híbridas e histórias onde a composição teatral transborda o tema central de um filme e faz parte da composição da trama, como no longa De Mãos Dadas, produção grego-francesa que faz parte da 42ª Mostra de São Paulo.

Na Grécia, um velho ator de teatro doente recebe a visita de suas duas filhas também atrizes e resolve apresentar com elas uma montagem de “Macbeth” que não dera certo no passado. Entre muitos ensaios e poucas conversas a relação rompida dos três vai tomando forma. A mistura dos sentimentos do texto de Shakespeare vai se adequando às ausências de uma existência e a construção das personas torna-se interessante.

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Partindo de uma premissa superficial que vê a continuidade da vida no teatro, o medo que motiva Macbeth e a inconstância perversa de sua esposa são acompanhados por uma terceira pessoa que une todas as bruxas e a consciência daqueles que com ela dividem o palco. As fronteiras vão se perdendo e se confundindo.

No centro de tudo, atraindo e repelindo, o teatro. Na terra onde nasceu, nas palavras daquele que o engrandeceu, e contaminado pelo francês, ele encontra-se com o trágico. Uma tragédia que é, ao mesmo tempo, tão pessoal e universal. É pelas rachaduras da arte, do título original, que esse humano aparece.

O jogo de atuações, em duas camadas, é bem elaborado e ganha pontos com a química entre a trinca de protagonistas vivida por Kostas Arzoglou, Katia Leclerc O’Wallis e Aurora Marion, em atuações competentes e entregues.

De maneira natural, o diretor Nikos Kornilios (11 Encontros com meu Pai) trabalha os dois universos, distinguindo-os de maneira pouco invasiva. O roteiro, escrito por ele e por Evgenia Papageorgiou (Kame Koummando) dá tempo a seus personagens e estabelece bem as relações, mas não consegue se manter até o final.

Depois de aceita a dinâmica, os novos elementos não são suficientes para manter o interesse. Os acontecimentos são previsíveis e De Mãos Dadas vai perdendo a força à espera que eles aconteçam. Uma pena.

Um Grande Momento:
A cena das mãos.

Próximas sessões na Mostra:
Dia 25, às 13h40 – Caixa Belas Artes 1
Dia 31, às 17h – CCSP Lima Barreto

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[42ª Mostra de São Paulo]

Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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