Crítica | FestivalMostra SP

Humberto Mauro

(Humberto Mauro, BRA, 2018)
Documentário
Direção: André Di Mauro
Roteiro: André Di Mauro
Duração: 90 min.
Nota: 7 ★★★★★★★☆☆☆

Documentários com pessoas falando são muito chatos. É melhor colocar as imagens por cima das falas. Quem diz isso é Humberto Mauro, a peça central do documentário que leva o seu nome. Mineiro de nascença, o documentado apaixonou-se logo pela fotografia e em meados dos anos 1920 começou a criar com uma câmera cinematográfica, tornando-se um dos pioneiros do cinema brasileiro.

O filme é dirigido por seu sobrinho-neto, o ator André Di Mauro e, narrado pelo próprio Humberto Mauro, segue o conselho do tio-avô e traz uma colagem de imagens icônicas assinadas também por ele com pequenas inserções de outras imagens de arquivo, que incluem filmes de outros realizadores.

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O caminho trilhado pelo documentário capta a essência do reconhecido diretor, em todo o seu tom bucólico e nas críticas visuais aos atropelos da modernidade. Apesar de trilhar um caminho descritivo, que segue a narração, o filme deixas as imagens livres. O que se fala não só se vê, mas, ao mesmo tempo, se antecipa e se pressente.

Embora trabalhe com imagens conhecidas, há uma ressignificação dada pelo próprio Humberto Mauro por meio de suas falas. Esse transitar entre dois tempos, quando a obra encontra o discurso de seu realizador, que fala de intenções, quadros, composição e de sua própria criação artística é incrível. Além de afastar-se do tipo documental que não o agradava, ainda que não seja inteiramente original, cria uma dinâmica única de resgate.

Além desse transitar entre imagem e discurso, o filme também faz com que o conjunto encontre uma forma de dialogar com o tempo presente e até – literalmente – o tempo futuro. É como se estivesse sempre em um estado de impermanência, onde o que se vê está gravado, mas pode ser modificado por significados que vêm com o novo.

Voltar à frase clichê do diretor, “cinema é cachoeira”, é comprovar essa força e mudança constante. Uma abordagem tão cinematográfica assim para homenagear um dos mais importantes realizadores do cinema brasileiro, que sempre valorizou tanto as imagens, em forma e tempo, não poderia ser mais interessante.

Um Grande Momento:
A lua.

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[42ª Mostra de São Paulo]

Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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