(I Still See You, EUA, 2018)
É fácil identificar o caráter espírita em Rastros do Além, suspense sobrenatural que estreia hoje na plataforma do Telecine. Uma trama que, por trás de seu viés que volta a alertar sobre os horrores dos desastres nucleares como um dia já fez O Dia Seguinte, na verdade se organiza para tratar sobre a dificuldade que os vivos têm de se desapegar dos mortos, enquanto presença memorial; essa é a grande mensagem por trás do filme, não faz bem a ninguém manter intactas as presenças de entes que partiram, principalmente para os que ficaram.
Difícil, na verdade, é acompanhar uma narrativa que se desconstrói ao bel prazer de seu roteiro. Escrito por um dos roteiristas de Mulher Maravilha, Jason Fuchs, o filme cria pra si uma mitologia em torno dos remanescentes, que e como são nomeados os mortos de um desastre nuclear que ainda são vistos pelos vivos, por conta da radiação. Eles permanecem realizando atividades exatamente no mesmo horário todos os dias sem conseguir comunicar-se. 10 anos após o desastre, essa é uma realidade já aceita pela sociedade.
O filme cria formas até criativas de mostrar suas regras, servindo as mesmas como base de uma aula da protagonista vivida por Bella Thorne (A Babá) porém o recurso desce pelo ralo a partir do momento que essas regras, em determinado momento da produção são descartadas como mentirosas pelos personagens, abrindo um pressuposto para que absolutamente qualquer coisa possa acontecer e inviabilizando qualquer credibilidade do filme. Com isso, o interesse do espectador pela narrativa se esvai.
A produção barata não consegue se igualar em charme ao que foi visto também em lançamento recente de ficção, A Caverna, talvez porque o diretor Scott Speer (que trabalhou com Bella em Sol da Meia-Noite) não tenha a criatividade visual vista lá, nem tenha uma trama a seu dispor tão recheada de reciclagens charmosas. Aqui, sobram diálogos ruins e atuações automáticas, um serviço protocolar na criação de planos e cenas, e um aborrecido divertimento, apesar do pano de fundo espiritual que questiona algumas posturas sobre a nossa relação com a morte.
É nesse desdobramento que reside o único real interesse por trás de Rastros do Além, ou seja, o filme não se justifica enquanto cinema de suspense e/ou ficção, mas nos detalhes que ele resvala na lembrança que os que se foram impregnam na narrativa. Veronica revê diariamente a mesma imagem d pai, lendo o jornal na mesa do café, e tem profundo respeito pela mesma -inclusive impedindo o protagonista de ocupar esse lugar. Porém não vê nenhum problema em diariamente “cortar” uma vizinha remanescente ao meio com sua bicicleta. Ou seja, o filme revela uma sociedade cuja empatia se desfez com o acidente.
O filme tenta ressignificar os diversos sonhos (delírios?) que a mocinha tem durante a trama ao final, encaixando essas imagens como uma espécie de premonição e tentando adquirir camadas de substância plus a sua massa, mas o jogo já está perdido a essa altura; a falta de sensibilidade em montar essas mesmas imagens, ou em fazê-las ganhar força na repetição é quase nula, criando uma atmosfera ainda mais desnecessária a um produto que nunca justifica sua função, ao todo.
Um grande momento
“RUN!”