(Love, Guaranteed, EUA, 2020)
Imagina que você caiu numa máquina do tempo e foi transportado diretamente para 20 anos atrás, início dos anos 2000. Ou até antes… mas com certeza por lá era muito mais fácil encontrar Rachael Leigh Cook, Heather Graham e Mark Steven Johnson. Peraí, você não conhece a estrela de Ela é Demais? Nem a rollergirl de Boogie Nights? Bom, ao menos aquele Demolidor com o Ben Affleck já foi visto né… bom, não dá pra culpar o espectador da Netflix por olhar pra Amor Garantido e não identificar nada. Muito menos achar que o protagonista dessa nova comédia romântica é o ator de As Branquelas.
O filme de Johnson não só não arremessa para esse período por conta de rostos ausentes das telas (e de trás delas) há muitos anos, mas o filme é também ele uma imersão por um período do cinema que não volta mais – ou ao menos que não é mais produzido, não está em cartaz nos multiplexes e cujo público simplesmente se perdeu. Sabe aquele filme que você foi ver no Cinemark em 2002 e que 5 anos depois passou a bater ponto semestralmente na Sessão da Tarde? Esse é Amor Garantido – satisfação saudosista garantida ou… a sua leitura de volta.
Não são necessariamente clichês que infestam o roteiro de Hilary Galanoy e Elizabeth Hackett, eles até existem, mas pareciam ter caído atrás da estante dos produtores dos filmes de Freddie Prinze Jr. (alguém lembra dele???) e lá foram esquecidos. Mais do que uma trama requentada e situações fáceis pra dinamizar um produto estão em jogo aqui; o que temos é a construção de um projeto nostálgico de um tipo de diversão pós-adolescente típica de um mundo pós-John Hughes, cujos personagens aqui nunca terão sequer uma pitada daquela inteligência, mas com certeza são herdeiros requentados dos adolescentes que cresceram nos anos 90 romantizando com Judd Nelson de punho cerrado erguido.
A trama até é espertinha, gaiata e bem charmosa: um homem quer processar o site de relacionamentos que nomeia o filme, porque lhe garantiu o amor que não veio depois de mil encontros. É isso mesmo, MIL. Óbvio que ele irá se apaixonar pela advogada que contratou pro caso e ambos colocarão a jogada a perder com essa paixão. Viram?, absolutamente inofensivo, mas ao cair na onda do filme, é difícil não perceber o teor que permeia o filme, repleto de situações, cenários, personagens e frases saídas da cabeça de quem viu de perto a carreira de Meg Ryan acontecer.
Porém… o tempo passou, e o filme aposta numa inocência (em todos os sentidos) que talvez o desloque muito para o público de 2020. Ou será que é exatamente esse tipo de filme que está faltando para uma refeição sem contra indicações, de digestão igualmente ligeira e cujo relógio não será olhado em nenhum momento? Mesmo com um coadjuvante que é a cara do Javier Bardem caracterizado como Pablo Escobar, com personagens secundários inconsistentes e que só dão as caras quando o roteiro precisa, até nessas falhas o filme parece ter se inspirado em produções de outrora, onde também isso acontecia.
A verdade é que Amor Garantido funciona, com o espectador quarentão, com o trintão e provavelmente também com o tal millennial. Não mudará a vida de ninguém, e provavelmente semana que vem já teremos esquecido, mas de detalhes bem ingênuos (a maçaneta do carro da protagonista) até outros bem divertidos (a reviravolta pós-caso), o filme não te deixa um minuto parar de pensar em um tempo onde esse era um blockbuster de fim de semana nos cinemas. Bons tempos onde esse filme seria facilmente protagonizado por Sandra Bullock e Will Smith.
Um grande momento
“Eu te odeio, Tiffany!”