(De Perto Ela Não É Normal, BRA, 2020)
De vermelho, correndo pelas ruas do Rio de Janeiro, Suzana Pires aparece em cena. Perseguindo algo que não se sabe muito bem o quê, ela começa a narrar sua desventura. De Perto Ela Não É Normal, dirigida por Cininha de Paula, é uma comédia que já começa errada e, embora tente, não consegue encontrar o seu caminho. Apelando para o que há de mais óbvio no gênero, sofre com um roteiro antiquado e o esquema de colagem de esquetes que tanto prejudica o gênero no cinema brasileiro.
Pires vive três personagens: a protagonista, sua mãe e sua tia sem nenhuma necessidade. A primeira parte é dedicada ao seu casamento fracassado com a participação de um Marcelo Serrado e uma Cristina Pereira deslocados em um texto para lá de esquisito. “Pode combinar o casamento. Você pode ligar para Havard e dizer que vai”. Difícil seguir com o nível de aleatoriedade dos diálogos, ainda que se note todo o esforço dos atores para fazer algo com aquilo que têm nas mãos.
Aleatórias também são as participações especiais, com diálogos nada elaborados e atuações caricatas bem complexas para não atores. É o caso da apresentadora, que embora seja familiarizada com a função talvez esteja a tempo demais sem exercê-la, Ivete Sangalo e Gaby Amarantos. A professora de Sangalo talvez seja a mais complicada, uma vez que não há uma continuidade nem nas entonações e nem nas posturas assumidas.
O roteiro pouco funcional assinado pela atriz principal e por Walter Negrão, e o coleguismo nas participações, faz com que De Perto Ela Não É Normal não consiga alcançar nem a graça e nem a empatia com aquela mulher. Baseado no monólogo de sucesso no teatro, falta alguma atualização e adaptação ao formato. Algumas cenas até têm potencial, como a da tentativa de sedução do marido, mas são tão exageradas na caricatura que não conseguem chegar lá. Outras chegam provocam o constrangimento mesmo, como absolutamente todas as de tribunal.
O filme tem ainda aquela vontade de se mostrar muito positivo na questão da mulher independente e empoderada (essa palavra…), mas cai em armadilhas como a imposição dos padrões de beleza e sucesso nada modernos. Pelo menos, é nesse momento em que há um único respiro de salvação no humor, quando Samantha Schmütz chega com seu timing e sua blogueira fitness Nani Gliesi.
De Perto Ela Não É Normal parece nunca ter decidido que trilha seguir. Por trás de um caminho de descoberta, tem uma promessa sem sentido em leito de morte, ruptura familiar, escalada ao sucesso, faculdade tardia, emprego dos sonhos, empréstimo impossível, traição de confiança e resgate de passado, tudo ao mesmo tempo agora e sem que as conexões tenham sido muito bem pensadas. Falta sentido e, o mais grave, falta humor.
Um grande momento
Nani Gliesi
Fotos: Ellen Soares