Crítica | Festival

Rebu

(Rebu, BRA, 2020)

  • Gênero: Documentário
  • Direção: Mayara Santana
  • Roteiro: Mayara Santana
  • Duração: 21 minutos
  • Nota:

Não existe um jeito certo de contar uma história mas com certeza tem um jeito errado de contar, romantizando tudo….”Eu não como de amor.”

A frase última do parágrafo anterior, proferida pela mãe de Mayara Santana, faz eco ao famoso ditado ‘amor não enche barriga’ que hoje pode ser aperfeiçoado para ‘amar a si é ser sã’. Num rebuliço fractal, onde abraça a autoficção para investigar a si, a realizadora pernambucana Mayara Santana investiga as semelhanças com o pai, típico homem nordestino hetero cis: Pedro Bala.

Na forma de talking head, ela entrevista o genitor em sua indefectível blusa do Santa Cruz, que deixa a pança de bebedor profissional levemente para fora.  Dessa composição de personagem, promove um automergulho pictórico em si, que acompanhamos em meio a flashes de imagens num fundo cor de rosa.

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“Não romantizem nem reproduzam o comportamento de Pedro Jovem”

Mayara Santana usa de muitas colagens no documentário videográfico pessoal e intransferível para refletir sobre seus amores e desamores. Mas, com uma sobriedade e honestidade que falta a uns e outros cineastas incensados por muitos, por supostamente compreenderem bem a natureza dos relacionamentos (já decorre um bocejo quando vem a lembrança alguns filmes de Malick), a jovem vai recapitulando sua vida amorosa e especialmente pontuando as atitudes abusivas que teve com suas “bença” ou crushes.

Rebu é um diário audiovisual, uma forma que Mayara encontrou de incorporar seu talento a um processo de autoconhecimento – não escapulir mais de si. Vamos ouvindo Cazuza, Nando Reis, vendo fotos dela em várias fases da adolescência e vida adulta, algumas das exs e ouvindo em off relatos em primeiro pessoa sobre como foi preciso aprender a lidar com a raiva que sentia de si, que contaminou os relacionamentos, como que foi entender o que era ser negra e que sempre reproduzia um comportamento machista.

Seu Pedro responde a pergunta dela, sobre porque são tão parecidos, com um simples “é a força do DNA”. Mayara volta a superfície, após os 20 minutos de Rebu, reafirmando a identidade como sapatão, dirigindo um caminhão e querendo ser o próprio caminhão “olhando pra frente e pra trás pelo retrovisor o tempo inteiro.”

Um grande momento
Pedro Bala em cena.

[24ª Mostra de Cinema de Tiradentes]

Lorenna Montenegro

Lorenna Montenegro é crítica de cinema, roteirista, jornalista cultural e produtora de conteúdo. É uma Elvira, o Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema e membro da Associação de Críticos de Cinema do Pará (ACCPA). Cursou Produção Audiovisual e ministra oficinas e cursos sobre crítica, história e estética do cinema.
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