Crítica | Festival

Volare

Melodrama para aquecer o coração

(Tutto il mio folle amore, ITA, 2019)
Nota  
  • Gênero: Drama
  • Direção: Gabriele Salvatores
  • Roteiro: Sara Mosetti, Umberto Contarello
  • Elenco: Claudio Santamaria, Valeria Golino, Diego Abatantuono, Giulio Pranno, Daniel Vivian, Marusa Majer, Tania Garribba
  • Duração: 97 minutos

Gabriele Salvatores surgiu pro resto do mundo (e até pra própria Itália, de certa forma) há quase 30 anos atrás, quando seu quinto longa-metragem, Mediterrâneo, saiu da cerimônia do Oscar com uma inesperada vitória em filme internacional, carimbando seu passaporte para o cinema do mundo. De lá pra cá, sua carreira inflou mas suas origens, ainda que tenham sido cooptadas aqui e ali em gêneros distintos, tenha sido moldada pelo melodrama com rasgos cômicos, que sua própria consagração já previa. Esse Volare, selecionado para o 8 1/2 Festa do Cinema Italiano, comprova sua vocação para essa fatia de mercado que ele ocupa, sem grandes novidades na área, mas com sensibilidade para apertar seus botões.

A partir da novela de Fulvio Ervas baseada em eventos verídicos, o filme desenrola seu desenvolvimento ao longo da interação entre Willy e Vincent, pai e filho que finalmente se conhecem dezesseis anos depois do nascimento do segundo. Willy é um cantor de casamentos que passeia pela Europa se apresentando em eventos surreais; Vincent é um adolescente cujo autismo explícito acaba sendo identificado de maneira hereditária pela forma peculiar em como seu pai rege sua rotina e suas relações. Esse encontro acaba suscitando uma espécie de renascimento não apenas para ambos, como também para a mãe de Vincent e seu pai adotivo.

Volare 2019

Nessa incursão por universo tão tradicional da cinematografia italiana, Salvatores acaba utilizando por todos os códigos do gênero que o formaram como tal, casos da trilha sonora emocionante e que, aqui, conta com o melhor do cancioneiro de fossa, como o clássico de Domenico Modugno que batiza o filme em português e Vincent, de Don McLean, mais significativa no roteiro. Volare também reforça o olhar que busca o exótico que o próprio diretor carrega em sua obra, como a criação das apresentações do protagonista, carregadas de um tom kitsch desde a primeira incursão, que poderia ser mais aproveitado pela narrativa, mas que também abarca a viagem de pai e filho por países da Europa Oriental.

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O desenho dos quatro personagens é muito acurado e são esses quatro elementos que trazem frescor a uma trama até antiquada. Cada um deles (pai, mãe, filho e padrasto) tem uma função específica no contexto apresentado e desempenha seu papel como a defender um ponto de vista sem paternalismo. Ainda que seu olhar pudesse ser ainda ampliado e ressignificado, suas trajetórias – que ainda encerram suas participações amplos em possibilidades, com horizontes ainda a serem descobertos – são acidentadas e entortadas, mesmo que abreviadas. Como se trata de uma produção modesta de intenções, o filme completa seu mosaico de ideias de maneira eficiente.

Volare 2019

Como diretor, Salvatores não costura algo muito ambicioso, apenas fornecendo as ferramentas necessárias ao espectador para que possam alcançar os campos de interesse – a emoção, a diversão, o prazer. Não há reflexão imagética que não seja muito óbvia (como as dificuldades representadas pelo mar de pedras que os protagonistas precisam enfrentar, sendo afinal substituído no desfecho por um oceano literal), o filme as utiliza para que a jornada do herói aqui apresentada não pareça muito básico e ausente de conflitos mais elaborados para além do manual de roteiro que o filme dispõe.

Com um trio poderoso de intérpretes encabeçando a produção e uma jovem revelação que desafia junto com a produção o politicamente correto que pediria com razão mais representatividade em tela, Volare é um programa para assistir em família controlando as lágrimas. Claudio Santamaria (de Meu Nome é Jeeg Robot), Valeria Golino (indicada a prêmios aqui), Diego Abatantuono (de Concorrência Desleal) e Giulio Pranno (recém visto em Segurança) elevam o material de forma delicada e naturalista, dando ao longa um caráter de guilty pleasure inegável.

Um grande momento
Na piscina

[8½ Festa do Cinema Italiano 2021]

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Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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