- Gênero: Comédia
- Direção: Adam Shankman
- Roteiro: Peter Huyck, Alex Gregory, Jas Waters, Tina Gordon
- Elenco: Taraji P. Henson, Kristen Ledlow, Josh Brener, Kellan Lutz, Jason Jones, Justin Alvarez, Chris Witaske, Max Greenfield, Paul Brian Johnson, Brian Bosworth
- Duração: 117 minutos
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Hollywood nos ensinou que é difícil saber do que as mulheres gostam. E aí haja filmes com homens exalando “o lado feminino”, se montando como mulher de uma maneira pouco lisonjeira ou até trocando de corpos — Se Eu Fosse Você hitou nas bilheterias com uma premissa super batida dessa. Mas talvez nenhum tenha triscado na superfície, mesmo que fazendo graça, e tratado espirituosamente da temática. E sim, não é como se precisássemos de um filme como Do Que Os Homens Gostam mas que é divertido ver o reverso, mesmo que ainda com muito male gaze na estrutura dramática, é. E o carisma de Taraji P. Henson, uma estrela que também faz o tipo Angry Black Woman com perfeição só agrega.
A produção de 2019, dirigida por Adam Shankman (Rock Of Ages) a partir da história original e roteiro de Tina Gordon – coescrito por dois homens, Peter Yuck e Jas Waters – vem bombando na Netflix, prova de que a audiência não achou ruim a espécie de remake do filme com Mel Gibson. Feito há 21 anos por Nancy Meyers (que já fez coisas tão díspares em qualidade como Senhor Estagiário, Operação Cupido e O Amor Não Tira Férias), Do Que As Mulheres Gostam envelheceu mal e se tornou descartável, como as esquecíveis cenas do “publiciotário” Nick (Gibson) vestindo calcinha e se depilando.
Uma espécie de versão era #Metoo, Do Que Os Homens Gostam versa sobre a máxima: quando se é “o homem dentre os homens” o mundo se joga aos seus pés. Mas quando uma mulher tenta fazer o mesmo, logo é considerada arrogante, egoísta e sem jeito com as pessoas. Criada pelo pai boxeador, Ali (Taraji P. Henson) se sente assim e está ficando cansada de lutar por reconhecimento na empresa de agenciamento esportivo de homens onde trabalha.
Ali é realmente a agente mais competente e com melhores números, porém, não é um homem branco babaca e puxa-saco, logo, não consegue atingir a promoção e se tornar sócia. O medo de enfrentar o mundo, ela afirma, ficou na infância mas as relações que desenvolve especialmente com homens — sejam amorosas ou profissionais — são agressivas, como se estivesse sempre de um lado do ringue pronta para atacar ou revidar.
“Pensei que pessoas negras não bebessem mais chá depois de Corra!”
Taraji tem tino para a comédia e as cenas onde está na cama com o doce pai solo e bartender (Aldis Hodge), sendo espancado enquanto ela tenta alcançar um orgasmo, fazem emergir pequenas risadas. Claro que alguns podem torcer o nariz para as fórmulas reprisadas, os exageros e as adequações de diversidade contidas nessa versão; afinal o filme de Nancy Meyers era “charmoso” com músicas de Frank Sinatra — outro notório abusador, como o próprio Mel — e as tentativas do bon vivant de se redimir com todas as mulheres ao redor, incluindo-a filha adolescente a quem negligenciou toda vida.
Porém, aquele ingrediente misterioso do acidente onde o protagonista machista e a protagonista misândrica batem a cabeça está posto (como funciona desde a antiguidade nas narrativas de transformações) junto com um chá alucinógeno, como aquele feito para mãe e filha trocarem entre si em Sexta-Feira Muito Louca. E não, não há nada de novo sob o sol.
“As únicas vozes que eu ouvi foram da Joan Rivers e do Tupac e eles não se davam bem”
Mas aí o que pega, incomoda muita gente, é ter uma mulher, ainda por cima negra, reprisando esse tropo de executiva(o) bem-sucedida(o), mas que precisa descobrir o que realmente necessita e não o que quer e assim encontrar a redenção. Taraji P. Henson também é produtora executiva de Do Que Os Homens Gostam e conseguiu angariar bons parceiros para a produção. Tracy Morgan (de 30 Rock) é o principal alívio cômico como o pai do jovem atleta que ela quer contratar – sim, esse filme tem uma vibe meio Jerry Maguire, com direito até a uma criança fofa para amolecer o coração da protagonista –, mas a cantora e musa Erykah Badu como a vidente chapadona é que é algo de divino maravilhoso — e ainda rende uma boa cena pós créditos.
“Não vou mais correr atrás de aprovação masculina”
Como conclusão da jornada bem convencional com arco de mudança positiva de Ali, após ouvir muitas bobagens, utilizar poucas coisas relevantes para se beneficiar e acabar descobrindo que não precisa dançar conforme a música, “All or nothing at all” (para citar uma romântica cantada pelo Sinatra), que pode fazer parte do sistema patriarcal, mas conquistando um pouquinho de independência, e assim assegurar seu final feliz.
Um grande momento
“Bem vinda à Wakanda”