- Gênero: Drama
- Direção: Alexandre Moratto
- Roteiro: Thayná Mantesso, Alexandre Moratto
- Elenco: Christian Malheiros, Rodrigo Santoro, Bruno Rocha, Vitor Julian, Lucas Oranmian, Cecília Homem de Mello
- Duração: 93 minutos
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O ato de não se preparar para uma produção, não acompanhar sua sinopse e trailer, não mergulhar em informações prévias, provocam situações inusitadas como encontrar esse 7 Prisioneiros, nova produção Netflix que chega hoje aos cinemas brasileiros antes da estreia na plataforma, semana que vem. O encontro com as curvas apresentadas, seus detalhes, suas nuances e construções, acabam por tirar da produção um lugar infundado, até não prometido, e encontrar um quadro de complexidade em camadas, como a pirâmide social que é sutilmente erguida pelo filme e vai sendo pouco a pouco comprometida pela sua ação. Como é salutar perceber que o filme está falando sobre questões muito mais amplas do que sua premissa previa.
O filme é o segundo longa de Alexandre Moratto, que com Sócrates revelou a si e a Christian Malheiros, que torna a protagonizar uma produção sua. Ainda bem, o filme novo eleva o material apresentado pelo primeiro e mantém alto o trabalho do segundo, aqui indo a lugares mais profundos de humanidade, servidos pela própria produção. Mais uma vez auxiliado no roteiro por Thayná Mantesso, o diretor refinou seu potencial, saindo de um lugar exploratório da miséria humana para uma cadeia sistêmica de eventos que constroem uma sociedade, sem (muito) paternalismo e tratando a vida comum como refém de um sistema apodrecido que corrompe quem está envolvido diretamente nas questões e também quem está bem longe dos fatos.
O que 7 Prisioneiros diz é que todas as fatias do Estado lidam e lucram com a exploração, com o crime e com a impunidade, porque a cadeia de acontecimentos em algum momento esbarra até no cidadão mais bem intencionado possível, e ainda que sem querer, a roda continua girando em prol da criminalidade. Os personagens que se entremeiam fazem parte de um lugar social longe de um lugar de privilégios, mas o acesso à eles está aberto, ainda que subalternizados. O mundo eternamente precisará de um capanga para sujar as mãos na hora do horror, seja em qual período histórico for. O mundo de hoje ainda é tão refém da necessidade de personagens históricos de auxílio ao Mal quanto sempre foi, e pra isso existirão muitos Matheus – e Lucas.
Não deve ser por acaso que seus personagens à deriva, na base da pirâmide, tem nomes bíblicos – Matheus, Samuel, Ezequiel e Isaque. Cordeiros prontos para o abate, sua função é o último degrau de uma organização muito mais intrincada do que aparenta a primeira vista. 7 Prisioneiros reflete sobre o trabalho a ser feito, a recusa do mesmo, e as possíveis saídas desse lugar, através da fuga, da morte, da traição, da ascenção, elementos que formam a própria construção da Bíblia, através de suas muitas narrativas. Aqui, o universo do crime organizadíssimo ganha novos elos de ligação com o mais baixo clero possível, criando a ilusão de união de um sistema em torno do mal comum, como se os principais conspiradores contra o Messias original tivessem a ajuda direta das crianças que o desprezaram na infância.
Além de Malheiros, o filme conta com a presença de um Rodrigo Santoro com sede de ressignificação. Destituído de qualquer galhardia que o tenha feito galã um dia, sua luz própria é exaltada em determinado momento, a justificar seu lugar (pseudo) avantajado dentro da esfera em que habita. É para esse lastro que o passado de Santoro serve, sua magnética presença, seja pela beleza ou pelo talento já tantas vezes demonstrados, ou pela disponibilidade para a reinvenção, a conexão que é rapidamente travada entre ele e seu co-protagonista justifica as molas do roteiro, que costura camadas cada vez mais profundas de realidade dentro do quadro apresentado. O talento de ambos os posiciona como alavancas para potencializar o discurso completo da produção.
Ainda que resvale em uma breve tentativa de pormenorizar vilanices nesse mesmo contexto sistêmico apresentado (a lágrima era dispensável), 7 Prisioneiros acaba por transformar essa ideia também em matéria de formação narrativa, criando uma estrutura de boneca russa, onde cada novo elemento apresentado guarda nova curva que amplia sua discussão, literalmente tão até a última cena que é difícil de compreendê-la como cena final. Essa era a real intenção de Moratto, porque o emaranhado de violência psicológica e física não tem fim mesmo, quando há uma escalada real para outras camadas dentro de uma mesma pirâmide, que adoece toda a estrutura, até a que não faz ideia que está inserida nela.
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