- Gênero: Documentário
- Direção: Questlove Jawn
- Roteiro: Questlove Jawn
- Duração: 118 minutos
-
Veja online:
Há uma conduta humana recorrente: a de negar ou minimizar o preconceito, especialmente em áreas específicas, onde minorias se destacam. Não há machismo no balé ou racismo na música, por exemplo. A manutenção da farsa — e também das diferenças — conta com elementos específicos e uma ferramenta sempre eficiente entre eles é o apagamento, o ato de fazer com que seres, feitos, atos e momentos da História desapareçam como se jamais tivessem existido. Foi assim com o Harlem Cultural Festival, grande evento que tomou o bairro de Nova York em agosto de 1969 — quase na mesma época em que aconteceu Woodstock, vejam bem — e levou ao seu palco nomes como Stevie Wonder, B.B. King, Sly and the Family Stone, Gladys Knight & the Pips, The 5th Dimension, Moms Mabley e muitos outros.
Dirigido por Questlove, Summer of Soul (…ou, Quando A Revolução Não Pode Ser Televisionada) resgata o momento e dá ao evento a visibilidade que ele deveria ter tido há 52 anos. Priorizando as músicas e a revolução de costumes que estava nos acordes e nas performances, também dá atenção às mudanças que chegaram com a conscientização racial e social que tomou conta dos anos 1960, com o nacionalismo separatista, os Panteras Negras, o movimento Black Power e outros.
Embora não perca o interesse, principalmente pelo contexto e pela grandiosidade dos nomes que fazem parte dele, o longa não faz nada muito diferente do que já se viu em tantos outros do mesmo gênero, principalmente quando se trata de documentários musicais. Passagens de arquivo resgatadas são intercaladas com entrevistas atuais que rememoram o momento com aqueles que o vivenciaram. Há, inclusive, uma certa frustração, uma vez que a introdução, com um trecho do show de Stevie Wonder, ainda brinca com colagens e montagens que quebram o formato.
Ainda, há uma opção por falar por dois temas muito bem determinados, ainda que eles conversem entre si: a música e a questão social. Porém, Summer of Soul não sabe como elaborar isso ao longo do filme, não intercalando e deixando a distribuição irregular. Contraposições importantes, como a da chegada do homem à Lua e a situação no Harlem ou mesmo a cobertura jornalística chegam tão tardiamente que não só se perdem em meio às informações como causam uma ruptura no ritmo. Em meio ao turbilhão hippie e feminista, há muita coisa interessante dita e debatida sobre a questão negra, assim como há muita coisa imperdível dita sobre a história da música negra e latina, do hip hop ao rock, que chega não com tanta potência quanto poderia.
Mas ainda assim é bastante potente. E é impossível não se incomodar com o silêncio em torno de um evento que levou tantos nomes que todos conhecem e escutam por toda a vida, e que mobilizou tanta gente em uma das mais importantes megalópoles do mundo em um período tão importante. Summer of Soul é mais um documentário musical, de formato padrão e com seus problemas, mas que esfrega na cara de todos o racismo em mais uma de suas formas: o apagamento e o silenciamento, que excluem da História e fazem com que passagens e pessoas sejam esquecidas, para que assim nunca tenham suas lutas e importância reconhecidas.
Um grande momento
Gladys Knight conta sua história