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Alemão 2

Diamante lapidado no sangue

(Alemão 2, BRA, 2022)
Nota  
  • Gênero: Ação
  • Direção: José Eduardo Belmonte
  • Roteiro: Thiago Brito, Marton Olympio, Pedro Perazzo
  • Elenco: Vladimir Brichta, Leandra Leal, Gabriel Leone, Mariana Nunes, Aline Borges, Dan Ferreira, Digão Ribeiro, Zezé Motta, Demick Lopes, Ricardo Gelli, Alex Nader, Alexandre Lino, Juan Paiva
  • Duração: 109 minutos

Na ocasião do lançamento de Alemão, muito foi especulado a respeito do que o uniria a filmes como os Tropa de Elite, e em como poderíamos sugerir uma espécie de fascismo em sua condução a respeito da violência urbana, a invasão dela por comunidades e o papel da segurança pública nesse caldeirão de eventos. A verdade é que o longa, para distante desse debate sociológico, não oferecia ritmo adequado, com o interesse em desvendar seus personagens atravancando o andamento de sua narrativa coral. Esse novo Alemão 2 melhora o original em todos os sentidos – seu debate é agora inclusivo, sua moral é um leque onde podemos observar mais de um lado, e a produção não perde em narrativa ao adquirir aspectos de thriller policial à sua gramática, agora sim evoluindo para um conjunto de harmonia perceptível.

Não dá pra chamar José Eduardo Belmonte de um cineasta de “altos e baixos”, tampouco podemos dizer que seu talento é surpreendente, ou que apareceu poucas vezes, muito menos que foi um escorregão. Alguém com longas formidáveis no currículo como A Concepção, O Gorila e Se Nada Mais Der Certo, não pode ser acusado de leviandade no cinema, muito menos de falta de rigor estético ou ausência de competência narrativa, seja na construção de universos ou no desenvolvimento deles. Cometeu escorregões, uns mais graves e outros menos, e atualmente se recupera do acidente mais grave (O Auto da Boa Mentira), mas não estabeleceu um padrão baixo dentro de sua filmografia.

Alemão 2
Divulgação

Alemão 2, seu novo lançamento – em um ano onde, aparentemente, teremos mais duas estreias – é uma recuperação em relação ao seu longa anterior, e ao olhar inicial para esse recorte específico em relação ao intrincado jogo público acerca da união entre civis, traficantes e policiais na geografia carioca. O primeiro filme parecia interessado em dissecar um grupo muito grande de personagens investigando suas personalidades com precisão, mas sem deixar espaço para um entrecruzamento se estabelecer organicamente. Além disso, o filme não tinha dinamismo suficiente para compreender aquele mural de acontecimentos, e o ritmo era castigado. Em suma, faltava experiência a Belmonte ao gênero.

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Oito anos depois do lançamento do primeiro, sendo filmado em intervalo de seis anos, seu diretor passou por Carcereiros após o título inicial da saga, e isso parece ter feito toda a diferença entre os dois filmes. No que diz respeito ao seu trabalho direto, Belmonte está maduro em sua retomada ao material, com uma entrega frenética a partir de cenas muito bem concatenadas em sua montagem (a cargo de Lucas Gonzaga e Bruno Lasevicius). Seu olhar captura os espaços com precisão, seja em ambientes claustrofóbicos como a casa da personagem de Zezé Motta, ou o cerco ao Soldado, onde passeiam pela comunidade antes de invadir um terreno pantanoso. O filme vende tensão intrínseca aos personagens e seu campo de atuação, sem jamais deixar de comunicar beleza estética, com uma luz impressionante de Fabrício Tadeu. O fotógrafo, que fez um trabalho igualmente singular em ‘A Suspeita’, aqui veste tão bem a noite fílmica e suas composições cheias de personalidade, quanto o dia e sua vastidão de possibilidades.

Alemão 2
Divulgação

Do ponto de vista narrativo, o roteiro assinado por Thiago Brito e Marton Olympio envolve toda a produção em questões verdadeiramente relevantes a respeito de suas fatias observacionais. Não apenas mais temos a visão apenas dos policiais e seus dilemas na guerra contra o tráfico, mas também o civil representado de maneira mais eficaz, com a voz de Zezé Motta ressoando pela produção e deixando uma marca indelével através de seu ponto de apreensão. Também tira do marginal um lugar da violência sem sentido, e analisa friamente uma parcela que geralmente é negligenciada na direção da vilania pura e simples. A complexidade chega até à força de três mulheres negras atravessando a produção, ao carregar seu foco de discussão para lugares pouco usuais para essas personagens, comumente retratadas com muitas periferias montadas em si.

A força de Alemão 2 está principalmente no conjunto que todos esses elementos formam, na condução de Belmonte por todos esses espaços de interação com uma realidade que, mesmo não vivenciada por todos, é um problema verdadeiramente coletivo. O elenco está em momento especial, com desempenhos marcantes de Vladimir Brichta, Leandra Leal, Gabriel Leone e Mariana Nunes. Mas são a participação de Zezé Motta, mostrando que leva grandiosidade a qualquer projeto onde esteja, e de Digão Ribeiro, em um lugar de abrangência exponencial de seu nome e seu talento sempre subestimado finalmente em foco, que elevam a experiência dessa coletividade. Um passo que merece ser visto a respeito dessa panacéia de violência, que não pode negar o capital humano que está em jogo em uma guerra das mais virulentas – negros matando negros, é o que as autoridades querem.

Um grande momento
Falando sobre o filho morto

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Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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