- Gênero: Terror
- Direção: Léo Falcão
- Roteiro: Léo Falcão
- Elenco: Gustavo Falcão, Heloisa Jorge, Marcos Breda, Yasmin Castelo, Rodrigo Garcia, Domingos Antonio, Rita Carelli, Leandro Vieira, Karina Falcão
- Duração: 110 minutos
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Se tem um gênero que, por mais que esteja sendo produzido em maior número agora no Brasil, ainda não conseguiu respaldo de quantidade e relevância, é o cinema fantástico. Formado por um escaninho que abriga o terror, o suspense, a ficção científica, a fantasia e alguns thrillers mais fortes, o cinema fantástico começou a reverberar com mais força nos últimos anos, com interessados em realizar não apenas experiências de gênero, como adicionar elementos sociais a um caldeirão fervente. Em um país que pariu um nome essencial como o de José Mojica Marins, ainda é pouco e insuficiente para formar um público que anseie por novas produções dessa fornada. Mas os esforços são nítidos, e filmes como Sujeito Oculto jogam novas luzes para cantos menos iluminados desta seara.
Leo Falcão faz aqui sua estreia em longas de ficção depois de algumas experiências premiadas em curtas e documentários longos, com uma vibração para esse movimento atual de deflagrar uma conversa com a fantasia de maneira mais direta. Tem um olhar preocupado em vaticinar um lugar tão pouco explorado dentro da nossa cinematografia, e esse cuidado resulta em um filme excessivamente controlado. Falta, talvez, a experiência em Falcão para “despirocar” no gênero, e encontrar uma luz de anarquia dentro do que o fantástico representa. Seu cuidado está impresso e sua qualidade de artista é algo muito evidente dentro do material, que é envolto em esmero das primeiras às últimas sequências, sempre tentando uma comunicação popular enquanto se embrenha por referências históricas do gênero.
Todo esse cuidado já supracitado está impresso em imagens e sons de Sujeito Oculto, um filme cuja direção de arte e figurino tem um cuidado muito claro, cuja fotografia de Beto Martins (de A História da Eternidade) é muito quente e demarcada para significar os códigos dos gênero. São símbolos representados na mandala da capa do livro, que também é o vitral da casa-cenário principal, que fazem sentido como um todo naquela representação de como o tempo é, como diria Caetano, um dos deuses mais lindos – e aqui, representado pelo homem que dobrou o próprio tempo, em corpo e imagem física. Tem um pensamento por trás dessa realização que exacerba muitas das questões mínimas, mas que não podem ser apagadas de um olhar crítico mais evidente, em paralelo aos esforços de cada um.
O que se dá é essa ausência do risco em um lugar que precisa encontrar o caos de maneira constante. Sujeito Oculto é um filme escrito e dirigido por Falcão, e podemos dizer que foi realizado tudo que ele queria. Seus diálogos são proferidos na totalidade, os cortes e inserções trocados entre seus atores são desenvolvidos com o máximo em ensaio, a mise-en-scene está sempre a disposição da palavra e da ação, sem perder qualquer lance relevante. Isso carrega o filme tanto de correção quanto de conforto, até de uma certa placidez, que atrapalha uma condução que deveria ser menos pausada e até menos pensada. Está tudo tão absolutamente onde deveria estar, sem qualquer mínimo resquício de descontrole, sem um arranhão que provoque um estranhamento, coisa que é primordial quando falamos de um ambiente fantástico.
Na trilha sonora de DJ Dolores, isso eventualmente ocorre. São cordas que provocam o ruído que tantas vezes fica faltando a seu tratamento imagético, que de tão programado, acaba surtindo o efeito contrário e soando estéril. Quando as composições do responsável por Tatuagem e Amor, Plástico e Barulho invadem a tela, tudo ganha uma cor inusitada que o filme precisa bancar, e isso é fruto de um talento do compositor para rasgar a narrativa com suas imprevisibilidades. O longa de Falcão parece correr livre, enfim, para longe das amarras estéticas excessivas, na direção da falta de fórmula preconcebida, que faz da produção um lugar menos seguro aos seus personagens.
A narrativa que corre ao largo dessa ideia engessada superlativa encampa a ideia de que o tempo é o senhor de tudo, e age por conta própria, de maneira circular ou não, dobrando-se à si mesmo e permitindo-se voos mais radicais a seus dominados. O encontro entre Gustavo Falcão e Marcos Breda é a maneira mais óbvia de verbalizar o que o filme nunca deixa de demonstrar, mas é a cena final que encanta no projeto. São momentos onde o filme se permite adentrar o orgânico e sair dele extasiado, mas também sujo, imerso em uma atmosfera que varia entre o sonho e o pesadelo. Vale o lugar de tentar adentrar essa dobra temporal que estabelecemos em nossas próprias realizações, que Max alcança de maneira derradeira, mas que o realizador ainda precisa amadurecer.
Um grande momento
Encontro entre pai e filha