- Gênero: Suspense
- Direção: William Brent Bell
- Roteiro: David Coggeshall
- Elenco: Isabelle Fuhrman, Julia Stiles, Rossif Sutherland, Hiro Kanagawa, Matthew Finlan, Samantha Walkes, David Lawrence Brown, Lauren Cochrane, Gwendolyn Collins, Kristen Sawatzky
- Duração: 99 minutos
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A bem da verdade, A Orfã, lançado em 2009, nunca foi um grande filme. Pelo contrário, tinha um monte de defeitos e facilidades, mas tinha contando a seu favor o fato de ser inusitado, ter uma direção inspirada de Jaume Collet-Serra e a força de uma revelação que, efetivamente, surpreendia. A história da perturbada e cruel menina de 12 anos que na verdade era uma mulher de mais de 30, contando com uma atuação impressionante da então pré-adolescente Isabelle Fuhrman, conquistou o público, mas foi devida e sabiamente encerrada, sem os tradicionais ganchos para uma continuação.
Esther não deveria poder seguir fingindo e matando, mas Orfã 2: A Origem está aí nos cinemas e com dois desafios de partida: acessar uma história tida como encerrada e sobreviver à falta de surpresa, justamente o elemento que fez um filme não tão incrível tornar-se mais interessante. O diretor William Brent Bell e o roteirista David Coggeshall, sabendo que dali não podiam continuar, partem para um prequel onde buscam a origem da história da mulher com disfunção glandular e de como ela chegou aos Estados Unidos. Quanto ao grande mistério já revelado, até que se saem bem ao elaborar uma trama onde o conhecimento dessa identidade não faz tanta diferença e criar algo maior cause a tensão para sustentar a história.
Agora, todos sabem quem é a protagonista, seus desvios se mantêm, e nem é tanto a história de vida de Esther que importa. Depois se uma passagem rápida pelo Instituto Saarne, manicômio de onde foge na Estônia, o jogo de encenação é escancarado ao se misturar com uma outra trama doentia e personagens degenerados. O jogo que se estabelece assim que Leena assume o papel de Esther, a filha desaparecida de uma rica família, entre ela, a suposta mãe e o irmão é interessante por confundir e borrar as fronteiras. Aquela coisa de ninguém é bom, mas vamos sempre torcer por alguém.
Fuhrman, que agora precisa de muitos efeitos digitais para se passar por uma criança, e que no ano passado brilhou como a obcecada Alex em The Novice, reafirma seu potencial. Aqui, ela alterna entre as duas personalidades com muita facilidade e tem muito mais espaço para fazer isso, já que não é só o público que sabe de sua condição. Ao lado da atriz está Julia Stiles (10 Coisas que Eu Odeio em Você), esta vive sua duplicidade de outra maneira, mas nunca afastando-se muito, seja no tom empregado ou na moral.
Abusando da licença poética, Coggeshall não se importa em esquecer fatos dados como certos no filme anterior e que definiam a origem da vilã. Ainda assim, há muito respeito pelo material original. O mesmo é perceptível também na direção de Brent Bell, que mesmo que não acerte sempre, busca fazer menções e referências ao trabalho de Collet-Serra. Mas o diretor estadunidense impõe a sua marca e mantém a pegada gótica que já podia ser vista em seu longa anterior Boneco do Mal, além de não economizar na breguice. Até cena pseudo-poética de telhado no meio do caos tem.
Esse visual exagerado e até por vezes meio incongruente é interessante, assim como a premissa do filme. São diferenças que dão um tempero especial a um longa que chega ao usual de títulos com plots de base semelhante, e inclusive ao mesmo local daquele que o antecede, com as pequenas provocações psicológicas cotidianas e os batidos detalhes de confronto, como o corpo que deparece durante a luta ou o longo embate corporal final. Porém, os acertos pontuais não escondem os problemas com o distanciamento e a falta de conexão entre algumas passagens, em especial aquelas que forçam a conexão platônica com Allen. Isso sem falar, nos momentos em que o diretor resolve ser explicativo demais.
Há muitos escorregões e o exagero de certas sequências é definitivamente um problema, mas Orfã 2 diverte e vai além do esperado. Seja pelo resgate da personagem ou no modo como consegue criar uma história recheada de suspense, com dramas que vão muito além do básico (e fácil) das possibilidades da condição física, perturbação mental e perversão moral. Ele faz aquilo que ninguém estava esperando dele, surpreende. É ótimo? Não. Mas é eficiente.
Um grande momento
A conversa na casa do detetive Donnan