Está lá no topo da lista de melhores filmes de todos os tempos da Sight and Sound: Jeanne Dielman, obra-prima da cineasta Chantal Akerman. O longa, que acompanha três dias no cotidiano de uma dona de casa viúva e reflete sua alienação e desgaste, por sua maneira de lidar com o tempo e os personagens, marcou a sua época, definiu um estilo e segue influenciando novas e velhas gerações de realizadores.
Em sua oitava edição, a lista da Sight and Sound reuniu 1.639 participantes, entre críticos, programadores, curadores, arquivistas e acadêmicos. Cada um deles enviou sua lista de dez filmes favoritos e a maior diversidade obviamente pode ser percebida no resultado, uma lista com mais de cem títulos onde ainda estão os cânones de sempre, mas que hoje dividem esse espaço.
Questionamentos, sempre existirão, afinal de contas, é uma lista. Porém, o fato é que o filme de Akerman é uma obra inquestionável e ocupa agora, sem dever nada, o local antes ocupado pelo também grande Um Corpo Que Cai, de Alfred Hitchcok. Mais do que ser um reflexo da representatividade, isto demonstra o que o acesso fez para o cinema nesses últimos dez anos.
Porque a lista é atualizada com essa periodicidade e é inegável que com os streamings e outros meios de assistir aos filmes facilitaram o contato com obras de inegável importância para o cinema, como essa pérola assinada pela diretora belga. Além de importantes campanhas por um maior conhecimento do cinema realizado por mulheres. Sim, pode até parecer que não, mas isso fez toda a diferença.
A mudança pode ser percebida se comparada a lista de 2012, onde o único filme dirigido por uma mulher era o próprio Jeanne Dielman, em 35º lugar, e a de agora, que conta com oito longas entre as 50 posições mais votadas, todos assinados por nomes desde sempre incontornáveis, mas que costumavam ser esquecidos como Maya Deren, Agnès Varda, Vera Chytilová e Claire Denis.
Não é uma transformação, obviamente, mas é o começo dela.
Confira a lista com os 50 melhores filmes de todos os tempos segundo a Sight and Sound
O Piano, de Jane Campion
Os Incompreendidos, de François Truffaut
Wanda, de Barbara Loden
A Palavra, de Carl Theodor Dreyer
Intriga Internacional, de Alfred Hitchcock
A Batalha de Argel, de Gillo Pontecorvo
Barry Lyndon, de Stanley Kubrick
O Matador de Ovelhas, de Charles Burnett
Stalker, de Andrei Tarkovksy
Rashomon, de Akira Kurosawa
Ladrões de Bicicleta, de Vittorio De Sica
Janela Indiscreta, de Alfred Hitchcok
Quanto Mais Quente Melhor, de Billy Wilder
Acossado, de Jean-Luc Godard
M, de Fritz Lang
Luzes da Cidade, de Charles Chaplin
A Canção da Estrada, de Satyajit Ray
O Atalante, de Jean Vigo
Psicose, de Alfred Hitchcock
O Espelho, de Andrei Tarkovsky
8 1/2, de Federico Fellini
Retrato de uma Jovem em Chamas, de Céline Sciamma
Taxi Driver, de Martin Scorsese
As Pequenas Margaridas, de Vera Chytilová
Shoah, de Claude Lanzmann
O Mensageiro do Diabo, de Charles Laughton
A Grande Testemunha, de Robert Bresson
Faça a Coisa Certa, de Spike Lee
Playtime, de Jacques Tati
Pai e Filha, de Yasujirô Ozu
O Martírio de Joana D’Arc, de Carl Theodor Dreyer
Os Sete Samurais, de Akira Kurosawa
Apocalypse Now, de Francis Ford Coppola
Persona, de Ingmar Bergman
Close-Up, de Abbas Kiarostami
Tramas do Entardecer, de Maya Deren e Alexander Hammid
Rastros de Ódio, de John Ford
Cléo das 5 às 7, de Agnès Varda
A Regra do Jogo, de Jean Renoir
O Poderoso Chefão, de Francis Ford Coppola
Aurora, de F.W. Murnau
10. Cantando na Chuva, de Stanley Donen, Gene Kelly
9. Um Homem com uma Câmera, de Dziga Vertov
8. Cidade dos Sonhos, de David Lynch
7. Bom Trabalho, de Claire Denis
6. 2001: Uma Odisseia no Espaço, de Stanley Kubrick
5. Amor à Flor da Pele, de Wong Kar-Wai
4. Era uma Vez em Tóquio, de Yasujirô Ozu
3. Cidadão Kane, de Orson Welles
2. Um Corpo Que Cai, de Alfred Hitchcock
1. Jeanne Dielman, de Chantal Akerman