Crítica | Streaming e VoD

Ghosted: Sem Resposta

Santa bobagem...

(Ghosted, EUA, 2023)
Nota  
  • Gênero: Ação, Aventura
  • Direção: Dexter Fletcher
  • Roteiro: Rhett Reese, Paul Wernick, Chris McKenna, Erik Sommers
  • Elenco: Chris Evans, Ana de Armas, Adrien Brody, Mike Moh, Tate Donovan, Amy Sedaris, Lizze Broadway, Mustafa Shakir, Anna Deveare Smith, Anthony Mackie, John Cho, Sebastian Stan
  • Duração: 108 minutos

Quando pensamos que Hollywood ultrapassou os limites de bobagens, damos de cara com Ghosted: Sem Resposta, que a Apple+ lançou ontem com algum estardalhaço. Vejam bem, vivemos uma época de MCU, de renovação constante de novos episódios de Transformers e de infinitas versões de live-actions da Disney que só fazem deturpar as versões originais. Ou seja, não é como se o cinema estivesse livre de bobagens, ou que elas não tivessem capacidade inesgotável de nos entediar, mas essa estreia prova que situações que nunca deixaram de ser bobas ainda rendem filmes novos. O mais surpreendente é, no meio dessa pataquada tamanho família, percebermos lá pelas tantas que o negócio é mais inofensivo do que estávamos considerando, dando para encarar se o pensamento for o da bobagem explícita.

Dirigido por Dexter Fletcher (de Rocketman – onde foi parar esse diretor criativo?), esse roteiro foi inexplicavelmente escrito a oito mãos. Digo isso porque não há nada no filme que justifique a presença de mais do que uma criança de 10 anos e uma espiga de milho que tenham concebido essa premissa, narrativa e diálogos. É tudo tão pueril quanto anacrônico, dado para que lado foi o filme de diversão vazia nos dias de hoje. O paralelo mais próximo a Ghosted: Sem Resposta a qual encontro recordação é aquele Encontro Explosivo, protagonizado por Tom Cruise e Cameron Diaz há 13 anos. Não é como se fosse uma inspiração abençoada, mas no filme de James Mangold os códigos dispostos ao público funcionavam bem mais; havia mais química entre o casal, mais humor, e a ação era mais eficiente. 

Aqui, os elementos nos convencem pouco. Nem Chris Evans aparenta ser um fazendeiro solteirão ‘filhinho dos papais’, muito menos não consegue convencer como alguém que nunca esteve envolvido em situações de thriller, ou ainda Ana de Armas parece encaixada no universo do qual faz parte. Nada parece orgânico, e o filme soa constantemente como uma grande brincadeira de faz de conta entre os envolvidos. No mesmo dia em que a Netflix estreou um filme onde o Vietnã é um cenário real de uma produção (Guia de Viagem para o Amor), esse Ghosted: Sem Resposta soa absolutamente falso, nos lugares em que visita ou no encaixe entre seus atores e os lugares onde estão inseridos. Não chega a ser exagerado como Alerta Vermelho também, onde tudo parece de plástico de tão artificial, mas as coisas não alcançam a veracidade desejada. 

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Nem no aspecto humano o filme consegue convencer o espectador de estar falando a verdade. A família de Evans parece retirada de uma sitcom dos anos 90, aquelas com claquete, e mesmo que vejamos poucas cenas desse núcleo, ainda assim fica marcado como nenhuma daquelas interação parece verídica. O vilão de Adrien Brody é uma caricatura de algo que já é o supra-sumo do mesmo, um tipo que não coube em nenhum filme de James Bond e escorregou para cá. A CIA que o filme mostra, amplamente inclusiva e com um jogo de tapetes prestes a serem puxados que só soa gratuito e fora de contexto. E a cereja do bolo é o casal protagonista, que não conseguimos entender nunca – nem como eles se envolveram, nem como essa paixão explodiu, e muito menos os níveis de ‘stalkerismo’ e carência do protagonista, indo a níveis jamais alcançados. 

Agora, vai saber como, mas depois da metade, com todas essas questões levantadas, sem uma condução que o diferencie de qualquer produto manufaturado sem personalidade, estamos de frente para Ghosted: Sem Resposta imersos naquele festival de besteiras interessados pra saber onde isso tudo vai dar. Quem conseguir chegar ao final da jornada, ganhará algumas recompensas, tais como mais uma participação especial inusitada – e nesse caso, esdrúxula até a raiz dos cabelos e desprovida de qualquer propósito, o que a faz ainda mais curiosa. Outro prêmio, esse mais substancioso, é o clímax alucinante principalmente para quem sente vertigens variadas, a cena onde o filme demonstra que ao menos teria condição de realizar algo mais empolgante do ponto de vista da ação, o que só acontece ali, infelizmente. 

Passatempo na acepção mais literal da expressão, Ghosted: Sem Resposta não vai ficar na memória nem até o próximo mês, o que em tempos de John Wick: Baba Yaga, um filme onde cada passagem fica indelével na memória, nos perguntamos qual a necessidade, de existir e de ser visto. Um produto que, se há 30 anos atrás, nesses mesmos termos, ainda encontraria espaço para ser um sucesso dos cinemas, e hoje mesmo ao streaming parece injustificado que isso seja produzido. Relaxar e curtir? Bom, talvez seja o caso de desligar o cérebro e aproveitar a montanha-russa, ainda que ela esteja enferrujada. 

Um grande momento

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Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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