Crítica | CinemaDestaque

Arca de Noé

Voltando ao passado

(Arca de Noé, BRA, 2024)
Nota  
  • Gênero: Animação
  • Direção: Alois Di Leo, Sergio Machado
  • Roteiro: Sergio Machado, Heloísa Périssé, Ingrid Guimarães
  • Elenco: Rodrigo Santoro, Marcelo Adnet, Alice Braga, Lázaro Ramos, Gregorio Duvivier, Julio Andrade, Bruno Gagliasso, Giovanna Ewbank, Eduardo Sterblitch, Ingrid Guimarães, Heloisa Périssé, Marcelo Serrado, Débora Nascimento, Monica Iozzi, Babu Santana, Seu Jorge
  • Duração: 96 minutos

Mais de 40 anos depois, a pessoa que entrou no cinema para assistir à Arca de Noé era bem maior do que a “menina pequenininha” da música do álbum que ela ouvia sem parar quando era criança. Bem mais velha do que a média do público-alvo também, mas estava ansiosa para ver a adaptação de algo que marcara a sua infância nos anos 1980. Com composições de Vinicius de Moraes, “A Arca de Noé”, o disco, reunia vários nomes da MPB, como Elis Regina, Milton Nascimento e Ney Matogrosso, para contar uma espécie de versão da história bíblica. Um segundo volume, no mesmo estilo, foi lançado logo depois com novas canções. Os dois não saiam da vitrola e as músicas cantadas naquela época, tantas vezes, estão vivas até hoje.

Era uma casa muito engraçada
Não tinha teto, não tinha nada
Ninguém podia entrar nela, não
Porque na casa não tinha chão

Na época, o álbum ganhou uma adaptação para a televisão assinada por Augusto César Vanucci, o primeiro programa brasileiro a ganhar um prêmio Emmy. Agora chegou a vez de estrear nas telonas, com direção de Sérgio Machado e Alois Di Leo. Modernizada e contando com uma bela animação em 3D. Com roteiro de Machado, Heloísa Perissé e Ingrid Guimarães, a famosa história de Noé é guiada por dois protagonistas: os ratinhos Vini e Tom, homenagem clara ao autor da obra original e a seu amigo e ícone da música Tom Jobim.

O filme usa a história bíblica como pano de fundo, desenvolvendo uma trama própria dentro da arca, com vilões, romance, intriga e um concurso musical. Famosas canções como “A Casa”, “O Pato”, “A Galinha D’Angola”, “O Leão” e “A Corujinha” se encaixam bem, em especial aquelas que acontecem durante o show, que recebe uma atenção especial no uso de luzes e cores. Enquanto a nostalgia funciona para quem conhece de cor cada uma daquelas músicas há anos; a qualidade das composições, o ritmo do filme e as imagens agradam os pequenos.

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Alguns personagens também chamam a atenção. É o caso de Baruk, o maioral leão que quer sempre falar bonito mas não sabe usar as palavras, e, claro, os dois ratinhos protagonistas Vini e Tom, cada um com a sua particularidade. Um elenco estelar foi escolhido para a dublagem, com Lázaro Ramos, Rodrigo Santoro e Marcelo Adnet fazendo os três, respectivamente, e acompanhados de Luís Miranda, Mônica Iozzi, Leandro Firmino, Eduardo Sterblitch e outros.

Arca de Noé é uma produção cuidadosa, que trata com respeito e carinho a obra original. Os saudosos podem sentir falta das músicas serem tocadas inteiras, mas vão voltar, ao menos por alguns momentos, para um lugar de conforto que conhecem tão bem. Mais, têm a chance de se divertir de novo junto com a criançada. Esta vai estar ouvindo novas versões de canções que já conhece, além de descobrir outras que precisava conhecer. Difícil é não correr para ouvir os dois álbuns depois.

Ora vai, na porta aberta
De repente, vacilante
Surge lenta, longa e incerta
Uma tromba de elefante

Um grande momento
É hora de axé

Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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