(Little, EUA, 2019)
Entre as muitas estruturas pré-estabelecidas da comédia, tem uma que encontrou um caminho confortável e sempre funcional: a de reviver a própria história para aprender alguma lição. O esquema possibilita dois caminhos, o da troca de corpos, como nos filmes Sexta-Feira Muito Louca ou Se Eu Fosse Você, ou deslocamentos temporais para o passado ou o futuro, como Quero Ser Grande, De Repente 30 ou esse A Chefinha.
Dirigida por Tina Gordon, a comédia conta a história de Jordan Senders, uma menina que, depois de muito bullying na infância, transforma-se em uma mulher arrogante e chefe insuportável. No melhor estilo trato todo mundo mal antes que alguém faça isso comigo, ela vai colecionando relações baseadas no medo e no desprezo.
A protagonista, em muitos exageros, é moldada para que exista a necessidade de uma transformação e de sua presença alterada no reviver desses traumas. Jordan é vivida por Regina Hall (Férias) e Massai Martin (Uma Noite de Loucuras) e, enquanto a primeira marca trejeitos e posturas, a segunda vem para zombar dessa figura.
É impossível não destacar o trabalho de percepção e transmutação de Martin. Com apenas 14 anos e uma carreira que acumula dublagens e participações na TV, a jovem atriz rouba a cena, seja na imitação ou no tomar posse da personagem, transformando-a.
Outra que chama a atenção é Issa Rae (O Ódio que Você Semeia) como a secretária April Williams. Sem ser espalhafatosa, a atriz tem um ótimo timing cômico e consegue fazer rir sem muito esforço. A química entre ela e Martin é fundamental para segurar o filme, que tem vários percalços, com um roteiro batido e pouco interessado em suas personagens, escrito pela própria diretora com Tracy Oliver (que também é uma das que assina o roteiro do divertido Viagem das Garotas).
Não que faltem ótimas piadas baseadas na inversão de expectativa, principalmente em um cinema dominado por homens brancos, mas a construção de eventos, relações e até mesmo personalidades deixa a desejar. Ainda assim, A Chefinha é um filme que sabe se aproveitar do esquema que abraça e, além do bom elenco, equilibra-se bem com aquilo que se predispõe a fazer: ser um filme leve e divertido.
Um Grande Momento:
Cafeína retarda o desenvolvimento.
Ver “A Chefinha” no Telecine