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Um Emprego de Verdade

(Rebelión de los Godínez, MEX, 2020)
Comédia
Direção: Carlos Morett
Elenco: Gustavo Egelhaaf, Alejandro Suárez, Bárbara de Regil, Mauricio Argüelles, Cesar Rodriguez, Fernando Becerril, Anna Carreiro, Carlos Macias Marquez, José Sefami, Raquel Garza, Carlos Morett
Roteiro: Omar M. Albores, Carlos Morett
Duração: 93 min.
Nota: 1 ★☆☆☆☆☆☆☆☆☆
Onde ver: Netflix

Não basta não ter nenhuma graça e nenhum timing cômico, Um Emprego de Verdade também desafia qualquer lógica do fazer cinematográfico ao apelar, cena após cena, a expedientes inexplicáveis, onde a ausência de bom senso acaba se tornando uma constante do projeto, do início ao fim. O diretor e roteirista mexicano Carlos Morett abusa da boa vontade do espectador e não oferece absolutamente nenhum refresco durante a longa hora e meia de duração. Somos assolados por soluções estapafúrdias e construção inexistente de um relevo firme para seus personagens, que minam qualquer interesse mínimo para com a narrativa.

O filme abre com seu protagonista Omar fazendo uma defesa cheia de brio da sua condição sem eira nem beira; dependente do avô, seu sonho é abrir uma empresa. Não fica claro se ele tem algum talento, mas seu avô claramente duvida de qualquer aptidão, embora torça para que ele arrume o tal “emprego de verdade”. A partir do momento que Omar se vê compelido a conseguir estabilidade, o filme começa a desfiar seu manancial de facilitações, a começar pela convicção do protagonista disposta na cena inicial, que desaparece sem deixar rastro. O filme pega todos os atalhos para contar sua história sem deixar qualquer espaço para o esforço; as ações que movem Omar e cia. são pautadas pela falta de conflito.

Um Emprego de Verdade (Rebelión de los Godínez) de 2020

Omar consegue uma vaga no departamento de desenvolvimento de uma empresa criadora de aplicativos. Como? Simplesmente querendo. Ele vai a uma “reunião” e o emprego cai no seu colo. Ainda que possa tentar explicar tudo como uma grande armadilha posterior, quem aceitaria um emprego onde você já é humilhado e diminuído na entrevista? Partindo na direção de um personagem como Omar, um descansado convicto, o absurdo só fica mais grave. Mas a verdade é que essa ausência de obstáculos da narrativa não assola somente Omar; todos os personagens fazem o que querem, sejam heróis ou vilões, sejam boas ou más ações – há a intenção de realizar e pronto, sem consequência ou dificuldade.

Tecnicamente, desde o início, o filme tenta imprimir uma marca registrada, mas seus esforços não fazem muito sentido. Desde a sequência de abertura em seus créditos, a produção investe em grafismos visuais que nunca saem de cena, o que em tese caberia, dado o lugar onde se passa 80% da trama e a função do protagonista. Só que, além de poluir o visual do filme, essa ideia se mostra vazia quando o roteiro não se importa em detalhar o trabalho de Omar, ainda que o mesmo seja o cerne narrativo. Tudo soa propositalmente confuso, desde as ações na empresa quanto no desenvolvimento da trama dos vilões, sempre colocadas em terceiro plano e perdendo a cumplicidade do espectador em mais um quesito.

Um Emprego de Verdade (Rebelión de los Godínez) de 2020

Na linha de frente do elenco, o jovem Gustavo Egelhaaf (um dos protagonistas do filme LGBTQ Cuatro Lunas) esbanja carisma e simpatia – e não vai muito além disso. O resto do elenco, nem isso ao menos tem. A mocinha Anna Carreiro não consegue ter uma reação verdadeira sequer; trata-se de um estereótipo ambulante sem qualquer charme. O veterano Fernando Becerril (que participou de diversas produções faladas em inglês, como A Máscara do Zorro e Plano de Fuga) empresta dignidade a um personagem típico desse tipo de narrativa. Nenhum deles, no entanto, vale a aproximação a um filme tão sem graça.

Poucas coisas são mais incômodas, partindo de uma produção cômica que tenta a todo momento arrancar risadas, do que não conseguir provocar nenhuma, pelo contrário, só causar aborrecimento e tédio. Sem qualquer aspecto positivo que se destaque, Um Emprego de Verdade não é apenas um filme que não justifica qualquer dedicação a ele, como incomoda o tempo perdido com sua sessão.

Um Grande Momento:
A apresentação do projeto.

Poster de Um Emprego de Verdade (Rebelión de los Godínez)

Netflix

Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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