(A Destruição do Planeta Live, BRA, 2021)
- Gênero: Ficção
- Direção: Marcus Curvelo
- Roteiro: Marcus Curvelo
- Elenco: Murilo Sampaio, Marcela Santos, Marcus Curvelo, Joel Curvelo, Sônia Gentil Curvelo
- Duração: 18 minutos
Marcus Curvelo é um cineasta que todos estão acompanhando com atenção já faz algum tempo. Com filmes como A Nova Melancolia, Mamata e Joderismo, criou algo que é um misto de conceito, universo expandido, alter ego, busca por entendimento social em meio a disseminada depressão que tudo nos levou a sofrer hoje, e mais uma meia dúzia de coisas que poderiam ser catalogadas. Lógico que ele não poderia ficar sem fazer um filme durante a pandemia, e o novo A Destruição do Planeta Live é, como se diz hoje, puro suco de Curvelo, no que isso tem de mais positivo a ser declarado.
Curvelo, durante a construção dessa ainda diminuta filmografia, se esforçou pra criar essa imagem do homem em conflitos mundanos de hoje. Através de seus filmes, podemos fazer uma radiografia não apenas das opiniões particulares do mesmo a respeito de política, sociedade, relacionamentos e família, como também enxergar uma fatia do pós-adolescente que demorou mais tempo para desmamar do que deveria, e acabou sendo assolado por uma realidade que não o interesse e o consome emocionalmente; é como se esse recorte fosse um resumo do que o diretor quer representar em matéria de recorte social.
Nesse registro da clausura pelo qual o mundo passou em 2020, o diretor filma a si, seu pai, sua mãe, e aproxima ainda mais a sua própria história com a do cara que protagoniza seus filmes. Sua interrelação familiar, no entanto, não apresenta muita necessidade de desenvolvimento, porque Curvelo só precisa de uma moldura para uma vez mais se horrorizar com a pressão sobre a “vida adulta”, e a partir daí discorrer sobre a solidão, seu deslocamento, sua decisão estratégica que o coloca de frente a um impasse geracional: tornar-se alguém ou aceitar o desaparecimento como consequência do esquecimento.
Em Destruição do Planeta Live, o diretor consegue relacionar a melancolia que perpassa sua obra de maneira mais contextualizada não apenas com a sua geração, mas com o mundo e as consequências dos eventos que 2020 ainda nos lega. Quando seus movimentos se encaminham para um desfecho com a cara de seu autor, não entendemos que dessa vez Curvelo fala apenas da sua cercania, mas de um incômodo generalizado que se abate em todos nós, de uma letargia que nos prostrou e que pode determinar com a ruptura do que está por vir; não precisamos esperar a próxima tragédia, só antecipar a nossa própria.
As representações visuais para esse desenlace já são conhecidas dos que acompanham o diretor, e que nesse Tiradentes ainda verá sua estreia como diretor de longas (Eu, Empresa). Esse torpor emocional, que corrói suas relações em todos os setores finalmente o confinaram, agora de representação alheia ao seu micro universo. Teria sido Marcus Curvelo o profeta de um caos institucionalizado que abrangeu desde instituições até as cognições pessoais? Provável que ele tenha percebido a onda chegando ao longe, que nos faria reféns passivos da nossa dor, prostrados diante dos tiros na nossa cara.
Um grande momento
“Posso dar um tiro no meio da sua cara?”